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Edson Bündchen Sobre raposas e porcos-espinho

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Uma antiga parábola grega diz que “a raposa sabe muitas coisas, mas o porco-espinho sabe uma grande coisa”. A raposa, apesar de esperta, persegue muitos objetivos, enquanto o porco-espinho é meio desengonçado e sem graça, porém é estável e concentrado no que faz. Jim Collins, no início de 2000, trouxe o conceito do “porco espinho” para a realidade das organizações, concluindo que o sucesso das empresas tem muito a ver com o foco e a energia dedicados a uma escolha crucial, realizando-a com excelência. Silenciosa e com aparente despretensão, a China, feito um porco-espinho, foi consolidando a sua posição no mundo, e hoje rivaliza a hegemonia econômica com os Estados Unidos. Enquanto isso, o Brasil, feito uma raposa, e se achando esperto, debate-se em busca de sua identidade, perde-se em escolhas equivocadas e condena, a cada ano, milhões a um futuro duvidoso por falta de planejamento e execução adequados. Já os chineses, ao contrário de nós, impressionam o mundo há bastante tempo. Com a pandemia, o gigante asiático demonstrou enorme capacidade de organização e coordenação, não apenas para gerir com competência a Covid-19, mas também para consolidar ainda mais a sua posição de indústria do planeta. É preciso reconhecer a consistência com a qual o Governo chinês executa seus planos, despertando a atenção para o modelo de Estado que possibilita tais avanços. Existem justos questionamentos sobre o regime de governo daquele país, o que não impede, entretanto, que se aprenda com os chineses.

Um primeiro exercício para possível aprendizado é reconhecer quem é verdadeiramente a China, especialmente neste momento em que o intercâmbio entre os países se torna ainda mais estratégico. Conforme lembra o professor da USP Evandro de Carvalho, o Partido Comunista Chinês detém o monopólio do poder na liderança do país, mas a forma de organização política e de como esse poder é exercido nas estruturas do Estado tem uma complexidade institucional não negligenciável. O chamado “socialismo com características chinesas” é uma realidade institucional que abrange um sistema de assembleias populares, órgãos consultivos, uma complexa estrutura administrativa, mecanismos de supervisão, sistema de justiça e formas de eleição que combinam a participação direta da população na base social com eleições indiretas e intensa competição. Esse entendimento é importante, menos para imaginar modelo semelhante para o Brasil, e mais para admitir que parcerias devem ser incentivadas, e afastados quaisquer preconceitos sem sentido.

Um dos maiores aprendizados que temos pela frente é no modo de executar os projetos. O planejamento estratégico, tão bem plasmado nos planos quinquenais chineses, pode ser uma inspiração para o Brasil. E não é preciso converter-se ao regime chinês de governo para que isso aconteça. Podemos e devemos copiar o que dá certo no mundo. Tem sido assim na engenharia, na medicina, na educação, na agricultura e em tantos outros campos nos quais o nosso País atingiu níveis de primeira classe. Contudo, precisamos mais do que nichos de excelência. Necessitamos de um projeto abrangente, um modelo de desenvolvimento que abarque as atuais tendências, no qual a inteligência artificial, as novas formas de trabalho e os novos comportamentos sociais sejam abarcados com visão estratégica, sintonizados com um planeta crescentemente integrado, sustentável, cooperativo e dinâmico. O Brasil que temos hoje não deve ser um destino, mas uma alavanca para colocar em perspectiva as amplas possibilidades que nos são oferecidas. Enquanto a China e outros países avançam cumprindo planos e metas, nosso País patina no improviso e em ciclos incompletos que impedem o pleno desenvolvimento. As eleições já são divisadas em horizonte próximo, e é muito importante observar se os candidatos se parecem mais com felpudas raposas ou dedicados porcos-espinho. Dessa postura, nada trivial, dependerão sobremaneira as possibilidades futuras para um País até agora tão machucado pela incompetência de seus governos.

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