Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 21 de setembro de 2020
Defesa do mexicano diz que a decisão do Supremo viola a soberania nacional
Foto: Marcello Casal Jr/Agência BrasilO jornalista mexicano Vladimir Valero, 48 anos, que reside no Brasil há quase duas décadas e teve o seu nome envolvido em um esquema criminoso de tráfico de pessoas e distribuição de fotos de pornografia infantil ocorrido na Costa Rica em 2013, pode ser extraditado para o seu país de nascimento após o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir favoravelmente ao pedido do governo do México para que ele responda à acusação naquele país, mesmo que os crimes dos quais é acusado supostamente tenham ocorrido no Brasil.
A defesa de Valero ingressou com pedido de asilo político junto ao Ministério da Justiça por entender que o caso é, na verdade, uma perseguição política por parte do governo do México. Formado como Bacharel em Ciências e Humanidades pela Universidade Nacional Autónoma de México, Valero sempre escolheu o exercício do jornalismo, o qual fez de forma crítica ao Executivo de seu país ao longo de muitos anos, sempre se posicionando contrário à esquerda bolivariana mexicana que está no poder há décadas.
Segundo a defesa, para fugir de perseguições, Valero precisou adotar pseudônimos para atuar nas redes sociais. Em 1998, saiu do México e foi morar na Holanda. Entre os seus trabalhos mais destacados, está a atuação para a agência independente Globalpress, sediada no Canadá, e produzia reportagens sobre investimentos na revista britânica The Economist.
O Brasil entrou na sua vida no ano de 2003, quando foi convidado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, a produzir uma reportagem sobre o Estado. Desde então, ele não deixou mais o Brasil. Valero se formou como coach na Sociedade Brasileira de Coach, em 2010, e tem um filho de 8 anos, que vive no interior do RS.
O jornalista mexicano está preso preventivamente desde janeiro de 2018, na Cadeia Pública de Porto Alegre (Presídio Central), onde aguarda o desfecho do processo de extradição. A defesa de Valero aponta violação de direitos humanos, visto que o Brasil é signatário de convenções internacionais que determinam julgar a liberdade de acusado em prazo razoável ou revogar-se a prisão preventiva, o que não ocorreu até o momento.
Valero foi sócio de uma empresa de hospedagem de páginas na internet com sede na Costa Rica quando já tinha residência fixa no Brasil. No país da América Central, a investigação foi desencadeada pela Interpol-CR com abertura de inquéritos também no Brasil e no México. O funcionário responsável pela parte administrativa do negócio na Costa Rica, Elias de Jesus Solano Corales, assumiu a culpa no caso, eximindo outras pessoas de participação no esquema.
A Procuradoria-Geral da República do México se envolveu no caso em razão da suposta existência de vítimas mexicanas, que foram ouvidas e negaram terem sido alvo de quaisquer crimes. Igualmente, a Interpol-CR apontou possíveis vítimas no Brasil, as quais também negaram perante a Polícia Federal terem sido vítimas de ilícitos.
Segundo a defesa do mexicano, ao decidir pela legalidade do pedido de extradição, o ministro do STF Ricardo Lewandowski ignorou o fato de os crimes terem ocorrido quando o acusado já residia e trabalhava no Brasil, com investigação em curso pelas autoridades brasileiras.