Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 15 de abril de 2020
Médico explica que fumantes são mais vulneráveis a vírus respiratórios que os não fumantes
Foto: Divulgação/Agência BrasilOs riscos do cigarro para a saúde das pessoas são conhecidos, mas a Covid-19 criou novas preocupações para os fumantes.
O pneumologista Fernando Didier afirma que uma das preocupações em relação aos fumantes é o fato deles levarem as mãos ao rosto e à boca, tocando em outras superfícies que podem estar contaminadas pelo coronavírus, sem poderem higienizá-las adequadamente enquanto fuma.
“Além disso, como há uma expiração forçada após uma inspiração profunda acredita-se que possa haver maior propagação de partículas virais, inclusive nas grandes ‘nuvens’ produzidas pelos vaporizadores”, disse o médico.
Jose Miguel Chatkin, presidente da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), afirma que o tabagismo está associado a desfechos desfavoráveis em Covid-19. “Já foi possível apontar que ser fumante está significativamente relacionado com sintomas mais graves”.
“Os fumantes são mais vulneráveis a vírus respiratórios que os não fumantes, sendo o risco de infecção grave por Influenza duas vezes maior nos fumantes. Os quadros clínicos também são mais graves. Além disso, no surto pelo coronavírus MERS-CoV , de alguns anos atrás, os fumantes tiveram taxas de mortalidade maiores que os não fumantes. Como são vírus muito semelhantes, é possível que as consequências sejam muito similares.”
O médico explica que as fumaças do tabaco, da maconha ou do narguilé, queimadas ou vaporizadas, são nocivas às células respiratórias já nos primeiros contatos. Elas levam à inflamação que se estende do nariz até as estruturas microscópicas responsáveis pela absorção do oxigênio, chamadas de alvéolos. Os fumantes são um grupo de risco para a Covid-19. “Quem fuma, quem já fumou ou já tem doença pulmonar crônica identificada é, sim, grupo de risco”, diz o médico.
“A doença pulmonar mais frequentemente associada ao tabagismo é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica que nada mais é do que a presença de bronquite crônica ou enfisema decorrente da exposição frequente ao cigarro. Nos últimos estudos que analisam fatores de risco de pior prognóstico em Covid-19, o tabagismo parece estar relacionado a maior risco de pneumonia, mesmo na ausência da DPOC doença pulmonar.”
O especialista fala que há estimativas que afirmam que o dano de um cigarro de maconha equivale a 5 cigarros de tabaco, “porém há alguma compensação pelo fato de serem consumidos menos cigarros de maconha”.
“A maconha possui menos componentes químicos que o tabaco industrializado, porém queima de maneira menos eficiente e não possui filtro quando consumida em forma de cigarro, o que aumenta o dano. O consumo da maconha pode piorar bastante doenças pulmonares pré-existentes e causar novas doenças ao longo do tempo, praticamente, as mesmas causadas pelo tabaco.”
Sobre a Covid-19 a Sociedade Brasileira de Pneumologia afirma que a doença é muito recente e, por esse motivo, ainda não existem evidências fortes sobre a sua relação com o tabagismo. Mas que o observado até agora mostra que o número de pacientes graves, ou seja, que necessitam de UTI, foi maior entre os fumantes.
Outro ponto de preocupação da entidade é o compartilhamento de cigarros que aumentam o risco de contaminação com o coronavírus. Esse compartilhamento pode ser feito com pessoas infectadas, muitas das quais estão assintomáticas ou com poucos sintomas da Covid-19.