Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 18 de junho de 2021
Um texto que circula no WhatsApp distorce dados de estudos para questionar a eficácia da CoronVac, vacina contra a covid-19 produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. A postagem de um blog afirma que a eficiência do imunizante varia entre 3% e 50% para pessoas de 70 a 80 anos e que isso deve motivar processos judiciais.
Esses números, no entanto, estão errados: a efetividade da vacina após duas doses pode variar de 28% a 61,8% nessa faixa etária, de acordo com um estudo preliminar.
O texto enganoso sugere que vacinados com a CoronaVac procurem receber doses de outros imunizantes, e entrem com ações na Justiça para exigir a revacinação. Especialistas, no entanto, afirmam que não existe nenhum embasamento médico ou jurídico para fazer essa recomendação. Importante ressaltar que a vacina foi aprovada para uso emergencial pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em análises que atestaram sua qualidade, segurança e eficácia.
O autor do texto analisado não deixa claro quais os números de efetividade da CoronaVac, mas alguns dos números citados são de uma pesquisa feita pelo grupo Vebra Covid-19, que reúne cientistas brasileiros e estrangeiros. O estudo preliminar (ainda não revisado por pares) concluiu que a efetividade da CoronaVac varia de 61,8% a 28% a partir dos 70 anos.
A média no grupo de idosos avaliados ficou em 41,6% depois de 14 dias da 2ª dose. Entre as pessoas que têm mais de 80 anos, a efetividade encontrada foi de 28% depois da aplicação da 2ª dose. Nos que têm de 75 a 79 anos, essa taxa foi de 48,9%, e na faixa etária de 70 a 74, 61,8%.
Efetividade x eficácia
A efetividade é medida na “vida real”, o desempenho do imunizante usado em massa na população em geral. Eficácia se refere à taxa encontrada em estudos clínicos, entre os voluntários da pesquisa. Nesse caso, a eficácia geral da CoronaVac é de 50,7%. Esse índice pode chegar a 62% se o intervalo entre a primeira e a segunda dose for igual ou superior a 21 dias.
Os dados da pesquisa Vebra abriram um debate sobre a revacinação de idosos, com uma dose de reforço da CoronaVac. Esse debate, no entanto, ainda está em aberto, e não há definição oficial do Ministério da Saúde sobre o assunto. Diferentemente do que afirma o texto analisado, não existe discussão sobre vacinação com doses de outras vacinas, nem sobre judicialização da questão.
O infectologista Julio Croda, que faz parte do grupo Vebra Covid-19, advoga pela revacinação: “O que a gente está pensando neste momento é revacinar para prevenir ainda mais o adoecimento nesse grupo acima de 80 anos, que é o que tem o maior risco e é uma parcela pequena da população”, afirmou ele.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que “neste momento não existe necessidade de se preocupar com uma terceira dose”. “Todos os estudos que o Butantan tem feito, e são muitos, aqui no Brasil, na cidade de São Paulo, no município Serrana, no Estado do Ceará e também no Chile, mostram que essa vacina tem uma alta eficiência, ou seja, ela é capaz de proteger contra os sintomas da doença, contra as internações e contra os óbitos”, disse ele.
A cidade de Serrana, no interior paulista, diminuiu em 95% o número de óbitos por covid-19 após vacinação em massa com a CoronaVac. Segundo resultados preliminares divulgados pelo Butantan, o número de casos sintomáticos caiu 80% e as internações foram reduzidas em cerca de 86%, enquanto 15 cidades vizinhas registravam alta no número de infectados.
Outro estudo preliminar, feito pela Secretaria da Saúde do Ceará e pelo Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará, chegou à conclusão de que a aplicação de vacinas contra a covid-19 pode aumentar a proteção contra mortes e internações em quase 100% para idosos acima de 90 anos.
O levantamento mostra que tanto a CoronaVac como a AstraZeneca proporcionaram um índice de segurança próximo a 90% para aqueles entre 75 e 79 anos, de cerca de 95% naqueles entre 80 a 89 anos e de quase 100% para idosos acima de 90 anos.
O texto checado afirma ainda que a eficiência da CoronaVac pode ser de 3%. Esse número é de um estudo diferente, feito pela Universidade do Chile, e se refere à efetividade após a primeira dose. A taxa aumenta para 56,6% duas semanas após a segunda dose. A maioria das vacinas contra covid-19 aplicadas no Brasil precisam de duas doses para oferecer a proteção completa.
No texto verificado, há uma sugestão para que as pessoas que foram imunizadas com a CoronaVac entrem na Justiça para “garantir uma nova aplicação de vacinas de outros laboratórios”. Como já foi mencionado, não existe recomendação para “mistura” de vacinas.