Terça-feira, 26 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz ataques preventivos ao Brics para fragmentar o bloco e evitar o avanço de discussões sobre a redução da dependência do dólar e outros temas citados recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por outros líderes, avaliam integrantes do governo brasileiro e especialistas.
De acordo com esse entendimento, a atuação americana funciona como um alerta, a despeito de os debates levantados pelo grupo ainda serem graduais e terem evoluído pouco para realmente representarem uma ameaça.
As movimentações, segundo essa análise, alimentam nos EUA o imaginário de que está em curso um movimento contra-hegemônico. Para Trump, isso justificaria as tarifas aplicadas contra membros do Brics, mirando o país que o preside este ano (Brasil) e o que estará à frente no próximo (Índia), numa tentativa de fragilizar a coesão do grupo. O Brasil foi sancionado com uma tarifa de 50% sobre as exportações e ainda tenta negociar exceções à lista.
Até 2023 formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics aumentou de tamanho e agora tem 11 membros. Entraram no grupo Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, países aliados dos EUA, além de Irã, Indonésia e Etiópia. Apesar da ampliação, o principal foco das parcerias comerciais do Brasil continua sendo a China.
Enquanto Trump faz sucessivos ataques contra o Judiciário brasileiro, Lula defendeu a necessidade de reduzir a dependência do dólar em transações entre os membros do Brics e sabe que isso incomoda a Casa Branca. O chefe do Executivo, porém, argumenta que a ideia não é diminuir a importância da moeda americana, e sim reduzir os custos das operações com a conversão, por exemplo.
Integrantes do governo Lula afirmam que os casos de Brasil e Índia — os dois países mais afetados pelo tarifaço promovido por Trump — sinalizam nessa direção. Para os indianos, a aplicação de mais sobretaxas a seus produtos pela Casa Branca se deve à compra de petróleo da Rússia, alvo de sanções americanas por causa da guerra com a Ucrânia.
Contudo, esses interlocutores ressaltam que, no caso específico do Brasil, o ataque dos EUA é ainda mais estratégico e diferenciado em meio a toda a ofensiva disseminada por Trump. Uma das interpretações é que a intenção do mandatário americano seria mais profunda, voltada para uma desestabilização política, social e econômica.
Trump deixou claro que só negocia um acordo com o Brasil se o processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro for arquivado e já mandou aplicar sanções a ministros da Corte e funcionários públicos. O governo brasileiro afirma que os EUA, ao tentarem interferir em assuntos internos, desrespeitam a soberania nacional.
Em resposta a Lula, Trump advertiu que não vai admitir que o Brics tire a liderança do dólar por meio de avanços no sistema de pagamentos em moedas locais. Criar uma moeda única no comércio do grupo, algo remoto de acontecer, também é considerado inaceitável pelo presidente dos EUA.
“ Temos esse pequeno grupo chamado Brics, que está desaparecendo rapidamente. Mas o Brics queria tentar dominar o dólar. E eu disse: qualquer um que esteja no consórcio de nações do Brics, vamos tarifar vocês em 10%”, declarou Trump, há cerca de um mês. As informações são do jornal O Globo.