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Edson Bündchen Um abismo que nos degrada

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O tema sobre a desigualdade social vem chamando a atenção de um número crescente de intelectuais mundo afora. Num planeta que nunca produziu e consumiu tanto, a fome e a miséria contrastam com a opulência e o esbanjamento, sem contar que a concentração da riqueza atingiu patamares inéditos. Na esteira dessa realidade, surgem propostas para a criação de alternativas que possam ir além do assistencialismo, combatendo as causas da pobreza, mas não esquecendo de aproximar um pouco mais os espectros diametralmente opostos entre quem não tem sequer um prato de comida daqueles que planejam ver a terra do espaço a partir da SpaceX, ao custo aproximado de R$ 300 milhões. Nesse sentido, percebe-se que o problema é tão inquietante que liberais, a exemplo do insuspeito Ex-Presidente do Banco Central do Brasil, Armínio Fraga, ter declarado que muitas políticas contra a pobreza e a desigualdade são hoje necessariamente incorporadas, senão pelo pensamento de direita como um todo, mas por parte dos liberais democratas, o que não deixa de ser auspicioso. Assim como a questão climática, a segurança e a inteligência artificial converteram-se em temas universais, também o combate à desigualdade passa a assumir essa condição supraideológica.

Contudo, o caminho para uma sociedade mais justa não é simples, requerendo planejamento, tempo e competência. É urgente criar uma mentalidade de desenvolvimento sustentável no País, que possa também diminuir a crescente indigência social. Há séculos, o Brasil se debate entre o atraso e a modernidade. O arcaísmo, o patrimonialismo e um eterno desleixo com a educação edificaram uma sociedade desigual, injusta e improdutiva. De acordo com a USP, temos hoje quase 62 milhões de pessoas vivendo na pobreza, sendo que 19 milhões sobrevivem com menos de R$ 170,00 por mês, na extrema pobreza. Mesmo diante desse quadro acachapante, parte das nossas lideranças priorizam outros temas, e isso tem desviado a atenção que deveria estar voltada para as grandes questões nacionais. Bobagens e equívocos como o risco de volta do comunismo, ataque às instituições, negacionismo e outras agendas do atraso, são replicadas na rede a todo momento, até por lideranças constituídas. A formação de um grande projeto de desenvolvimento passa por escolhas cruciais, porém um primeiro passo é limpar o caminho dos grilhões que ainda nos prendem ao obscurantismo, a agendas anticiência, e outras tolices que povoam o cenário atual.

Nosso País investe pouco e, sem investimento, é o mesmo que comer as sementes para sobreviver. De acordo com o IBGE, estamos com a menor taxa de investimento dos últimos 50 anos. O setor privado não irá suprir sozinho a ausência de inversões estatais, e existe consenso de que determinados investimentos cabem prioritariamente ao Estado. Para que sobrem recursos, decisões corajosas terão que ser tomadas. Segundo Armínio Fraga, as receitas poderiam advir de um ataque direto aos subsídios indevidos, desonerações fiscais e vantagens tributárias, além do aprofundamento da reforma da Previdência e do Estado. Acerca deste último, o custo do funcionalismo público, mais pensionistas, consome cerca de 80% do gasto total, enquanto os demais países desenvolvidos ficam em patamares inferiores à 60%.

Uma sociedade livre, soberana e plural não pode conviver com o quadro de tamanha disparidade entre seus cidadãos. É hora de agir. Após as reformas, com a limpeza da agenda patrimonialista, enxugamento do Estado e criação de um consenso de governabilidade e confiança, Governo e iniciativa privada devem olhar para a educação, saúde, segurança com visão estratégica. Além disso, a organização para um futuro melhor requer a melhoria dos sistemas de infraestrutura, mobilidade urbana, moradia e saneamento básico. Combinadas e equilibradas, as agendas política e econômica poderão atrair novamente os investimentos privados, interna e externamente, permitindo que o assistencialismo dê lugar à criação de oportunidades, para que possamos diminuir o atual abismo social que a todos deveria constranger.

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https://www.osul.com.br/um-abismo-que-nos-degrada/ Um abismo que nos degrada 2021-09-23
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