Terça-feira, 07 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 27 de abril de 2021
A filha biológica da deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD), Simone dos Santos Rodrigues, foi ouvida na segunda-feira (26) pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Ela foi chamada para prestar depoimento como uma das testemunhas da mãe, que responde a processo disciplinar por quebra de decoro parlamentar. Simone voltou a admitir que deu R$ 5 mil para uma irmã matar o pastor Anderson do Carmo, como havia dito em janeiro deste ano, em interrogatório do processo criminal no qual é ré. No entanto, a filha da parlamentar entrou em contradição em relação a outros pontos de seu depoimento anterior e acrescentou informações que não havia revelado na Justiça.
A confissão de Simone durante seu interrogatório na Justiça não foi suficiente para livrar sua mãe da acusação de ser mandante da morte do pastor Anderson do Carmo. O Ministério Público estadual considera que há provas contra Flordelis e pediu à Justiça que a deputada seja levada a júri popular. A juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, ainda não decidiu sobre o pedido do MP.
Simone e outros seis filhos de Flordelis, além de uma neta, estão presos acusados de envolvimento na morte de Anderson. Flordelis só não está presa porque tem imunidade parlamentar.
Sobre as contradições, a advogada de Simone, Daniela Grégio, alega que a cliente se sentiu intimidada durante a audiência judicial. “Ela não teve tranquilidade para prestar depoimento em juízo. Simone se sentiu intimidada por causa da postura da juíza, que foi extremamente rigorosa e ríspida. Hoje (segunda-feira), ficou mais à vontade”, alegou.
Veja, abaixo, alguns dos pontos de contradição entre os depoimentos.
– 1) Relacionamento com pastor Anderson do Carmo: Na Justiça, ao ser questionada pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, Simone negou que tivesse se relacionado com o pastor Anderson antes de sua mãe. Testemunhas do assassinato já relataram que Simone e Anderson foram namorados na adolescência. Já nessa segunda, na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, a filha de Flordelis contou uma história diferente e não negou envolvimento com Anderson antes de sua mãe.
“A única relação que tive (com Anderson) foi na minha adolescência, uma brincadeira de escola, aquelas brincadeiras de salada mista. Foi o único relacionamento que tive com ele. Não foi nada muito sério, foi coisa de adolescente. Eu deveria ter uns 12, 13 anos”, afirmou ao ser questionada pelo deputado federal Alexandre Leite, relator do processo.
Ao jornal O Globo, a advogada de Simone, Daniela Grégio, afirma que não houve contradição. “Não foi realmente um relacionamento que eles tiveram. Não passou de uma brincadeira na adolescência. Hoje minha cliente esclareceu melhor”, disse.
– 2) Motivação para matar Anderson: Em seu interrogatório em janeiro, no processo criminal na 3ª Vara Criminal de Niterói, Simone alegou que planejou a morte do padrasto porque não aguentava mais suas investidas sexuais contra ela, sem narrar episódios de violência sexual.
Simone repetiu o relato nesta segunda-feira, na Comissão de Ética, mas foi além, narrando episódios de violência sexual. “Todos os dias, pela manhã, ele (Anderson) entrava no meu quarto para me agarrar, tentava me violentar. Já conseguiu algumas vezes com força, na marra. E eu não aguentava mais”, afirmou.
– 3) Conhecimento de outras pessoas: A filha biológica de Flordelis também entrou em contradição nessa segunda-feira quando o relator do processo disciplinar na Câmara dos Deputados perguntou se alguém na casa tinha conhecimento dos supostos abusos e investidas de Anderson. Simone citou pessoas que, segundo ela, sabiam. No entanto, em seu interrogatório na Justiça, ela negou que qualquer pessoa soubesse do que acontecia.
– 4) Outras vítimas: Em seu interrogatório na Justiça, Simone não mencionou, em nenhum momento, ter conhecimento de que outra pessoa da casa, além dela, era assediada por Anderson do Carmo. Já no seu depoimento à Câmara dos Deputados, a filha da parlamentar trouxe essa informação. “Tem uma menor envolvida. Isso eu só vou falar em júri (popular). Minha advogada me instruiu”, disse ela.
– 5) Mensagens incriminadoras contra Flordelis: Pela primeira vez, nessa segunda-feira, Simone afirmou que foi a responsável por enviar mensagens para seu ex-marido, André, do celular da mãe. Nas mensagens, cuja autoria é atribuída a Flordelis pelos investigadores, a deputada afirma que não poderia se separar, pois escandalizaria a obra de Deus, e também chama o marido de traste. A filha da deputada não havia afirmado, em nenhum de seus depoimentos que tinha sido a autora dos textos. As informações são do jornal O Globo.