Terça-feira, 23 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 29 de junho de 2019
A capitã-navegadora alemã Carola Rackete, 31 anos, foi detida assim que chegou ao porto da ilha de Lampedusa, na Itália. Responsável pela barco Sea Watch, que resgata imigrantes clandestinos no mar Mediterrâneo, ela havia ignorado o bloqueio das águas territoriais do país europeu, imposto pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, de extrema-direita e autor do pedido de prisão contra de toda a tripulação.
Segundo a imprensa de Roma, Carola pode ser condenada a até dez anos de prisão. O navio estava atracado havia três dias e, na manhã desse sábado, os imigrantes puderam finalmente desembarcar, sendo levados diretamente para um centro de acolhimento de refugiados. Todos eles devem ter como destino outros países europeus que aceitaram recebê-los.
O diretor da organização não governamental Sea Watch, Johannes Bayer, postou uma mensagem no Twitter deixando claro que está orgulhoso da capitã do navio humanitário: “Carola Rackete fez o que era necessário, insistiu no direito marítimo e colocou essas pessoas em um local seguro”.
Ordens
Inicialmente, a polícia marítima da Itália havia ordenado que o navio permanecesse a uma milha náutica do porto da ilha de Lampedusa. No início desta semana, a capitã-navegadora manteve contato permanente – por meio de vídeo – com jornalistas em Roma, quando denunciou uma situação “incrivelmente tensa” a bordo do Sea Watch.
Ela contou que a maioria das pessoas resgatadas são vítimas de traumas, sofreram abusos e violências e estão muito angustiadas em relação aos seus destinos. Uma dia antes, um migrante de 19 anos teve que ser retirado da embarcação junto com o seu irmão pequeno, por motivos médicos: eles sentiam fortes dores. Os outros resgatados dormiam no convés do navio, sobre salva-vidas infláveis e sob barracas improvisadas para se proteger da onda de calor que atinge toda a Europa.
O Sea-Watch, com bandeira holandesa, estava há duas semanas bloqueado em águas internacionais. No dia 12, embarcação permitiu o resgate de um grupo de 53 migrantes que se encontravam à deriva em um bote inflável, na costa da Líbia (Norte da África).
Ao menos 11 pessoas que corriam risco de morte foram recuperadas pela guarda-costeira italiana, mas o ministro de extrema-direita proibiu a entrada da embarcação em águas territoriais do país. Rackete decidiu, então, que não haveria outro remédio a não ser violar a proibição e salvar os migrantes restantes.
Portas fechadas
Há um ano, Salvini ordenou o bloqueio dos portos para conter o fluxo de imigrantes em situação irregular na costa da Itália. A Procuradoria de Agrigento, na Sicília, abriu uma investigação contra a capitã por tráfico ilegal de seres humanos e a notificação foi entregue pessoalmente na sexta-feira por agentes da Guarda de Finanças, que na véspera haviam revistado toda a embarcação.
“Violamos a lei porque a Líbia não é um porto seguro para desembarcá-los, porque lá estão em guerra. Estou segura de que a justiça italiana reconhecerá que a segurança das pessoas é mais importante que as fronteiras nacionais”, explicou a capitã.
Salvini exigia que as pessoas resgatadas no mar fossem levadas para a Holanda, bandeira do Sea Watch, ou para a Alemanha, sede da organização humanitária. O líder da Liga acusou paradoxalmente a organização alemã de “fazer política” com a vida dos migrantes.