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Por Redação O Sul | 11 de julho de 2019
A demissão do embaixador britânico nos EUA, na quarta-feira (10), acirrou a crise detonada pelo vazamento de memorandos confidenciais do diplomata com críticas a Donald Trump e respingou na corrida pelo posto de primeiro-ministro do Reino Unido. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Chefe da missão do país europeu em Washington desde 2015, Kim Darroch pôs o cargo à disposição depois de o jornal Mail on Sunday divulgar mensagens em que ele classifica a gestão do presidente republicano como disfuncional e inepta.
Em um dos textos endereçados à chancelaria em Londres, o embaixador afirma: “Não pensamos de verdade que esta administração vá se tornar significativamente mais normal, […] menos imprevisível, menos conflituosa internamente, menos atrapalhada em termos diplomáticos”.
O fato de Boris Johnson, favorito a suceder Theresa May na liderança do Partido Conservador (e, por extensão, no cargo de premiê), não ter garantido a permanência de Darroch no posto contribuiu para a decisão do diplomata, noticiou a imprensa inglesa.
Em debate televisivo realizado na terça-feira (9), o ex-ministro das Relações Exteriores teve ao menos cinco oportunidades de expressar seu apoio ao servidor britânico, mas se recusou a fazê-lo.
Enquanto isso, seu adversário e atual titular da chancelaria, Jeremy Hunt, disse que, se virasse premiê, manteria Darroch em Washington até a aposentadoria deste, prevista para o fim de 2019.
Johnson aparece com ampla vantagem nas sondagens com o eleitorado conservador. O resultado será conhecido no próximo dia 23.
Analistas afirmam que o ex-prefeito de Londres sacrificou um servidor pelo qual não tinha especial afeição (Darroch é um entusiasta da União Europeia, da qual Johnson quer subtrair o Reino Unido a todo custo) em nome da relação com o presidente Trump, que já o elogiou publicamente várias vezes.
Segundo esse raciocínio, o conservador teria deliberadamente buscado evitar uma promessa ou gesto que pudesse melindrar o republicano, com quem pretende fechar um acordo de livre-comércio que ajude a amortecer o brexit, a saída britânica do bloco europeu –isso se o “divórcio”, já adiado duas vezes, de fato se concretizar.
Na segunda-feira (8), Trump escreveu em uma rede social que os EUA não tratariam mais com Darroch e aproveitou para alfinetar May, dizendo que o governo dela havia conduzido o processo de desligamento da UE de forma atabalhoada.
No dia seguinte, o presidente dos EUA dobrou a aposta. Chamou o diplomata de maluco e estúpido, além de voltar a criticar a suposta insensatez da primeira-ministra e seus esforços malsucedidos para obter do Parlamento britânico a aprovação do acordo fechado com a Europa (“um desastre”).
Acuado entre um anfitrião mercurial (Trump) e um futuro “patrão” indiferente (possivelmente, Johnson), o embaixador viu que não teria mais condições de atuar como interlocutor.
“Quero dar fim à especulação”, escreveu, em sua carta de renúncia. “A situação atual me impede de desempenhar meu papel como eu gostaria. Acho que, nessas circunstâncias, o caminho responsável é deixar que um novo embaixador seja nomeado.”