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Brasil A nadadora Joanna Maranhão viveu momentos dramáticos, mas decidiu enfrentar isso da forma mais construtiva que encontrou

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A nadadora, que sofreu abuso, deu nome à lei que ajuda a levar casos a público. (Foto: Reprodução/Instagram)

Duas tentativas de suicídio e 16 anos tomando remédios. Vítima de abuso pela primeira vez aos 9 anos, por seu técnico, a nadadora Joanna Maranhão viveu momentos dramáticos, mas decidiu enfrentar isso da forma mais construtiva que encontrou.

Passou a falar abertamente sobre sua experiência e a discutir caminhos para a prevenção da violência e da exploração sexual. Abriu a ONG Infância Livre, que tem como missão combater a pedofilia por meio do suporte às vítimas, do diálogo e da educação sexual para prevenir casos.

A relação entre atleta e treinador é de poder, diz ela: um manda, o outro obedece. Onde há relacionamentos desse tipo podem acontecer abusos.

“Existe uma cultura de silenciamento, e agora a gente fala: ‘Não mais!’. As vítimas estão sendo ouvidas, estão conscientes de que são vítimas de fato. E assim começa esse processo de verbalização”, diz a atleta.

Conversas sobre abuso começam a acontecer no universo do esporte. No ano passado, jogadores de futebol se mobilizaram em campanha do Sindicato de Atletas de São Paulo para discutir assédio e exploração em categorias de base. O idealizador da campanha foi o ex-goleiro Alê Montrimas, que diz ter sido assediado por técnicos, preparadores e dirigentes.

As denúncias feitas por homens, no entanto, ainda não são tão frequentes. “A gente imagina que, numa sociedade patriarcal, muito mais mulheres sejam abusadas. Isso não quer dizer que os homens não sofram”, diz Joanna. Para ela, justamente por causa da sociedade, eles se calam mais. “A vergonha, que é ainda maior, explica esse silenciamento, porque o abuso fere a masculinidade, a força, a virilidade.”

Aos poucos, porém, os casos no esporte começam a ir a público. Mais de 40 atletas e ex-atletas denunciaram o  treinador de ginástica artística Fernando de Carvalho Lopes, que, em março, foi banido da modalidade pelas acusações de abuso sexual e assédio moral em decisão do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica). Ele diz ser inocente.

Segundo a nadadora, houve uma tentativa de silenciamento no caso. “A ginástica é um esporte tradicional no Brasil, e o Fernando, um técnico extremamente renomado. Com certeza [um escândalo] afeta mídia, patrocinadores.”

“Mas isso não pode estar acima do crime que foi cometido contra esses jovens. A Justiça Desportiva e as entidades esportivas não podem se eximir”, afirma Joanna.

Depois de falar publicamente sobre o próprio drama muitos anos depois (o crime já havia prescrito), Joanna acabou processada pelo ex-técnico.

Depois disso, foi aprovada, em 2012, a chamada Lei Joanna Maranhão, que determina que o prazo para a prescrição de crimes sexuais contra crianças e adolescentes só comece a contar quando eles completam 18 anos.

A lei determina também que os crimes de maior gravidade, como estupro, terão um prazo de até 20 anos a partir da maioridade para que o agressor seja denunciado.

“Quando a vítima fazia 18 anos, o crime prescrevia. Ou seja, era como se nunca tivesse acontecido. É estúpido colocar um prazo temporal para que as vítimas falem, pois sabemos que isso demora.”

Aumentar o período de prescrição dá, assim, tempo para a vítima decidir. “Isso é um passo. O ideal é que esses crimes não prescrevam.”

Para a nadadora, é fundamental também trabalhar o acolhimento a quem denuncia, pois, a partir do momento em que o caso é verbalizado, torna-se real novamente.

“O cuidado com a saúde mental da vítima também é importante e é papel do Estado. Quando a pessoa faz a denúncia, o problema está apenas começando”, diz ela.

“Se ela falou sobre isso dez, 20 anos depois, na maior parte das vezes ela não terá provas físicas. Vai ser a palavra dela contra a palavra do abusador. Isso é um processo muito complicado, é desgastante.”

Joanna diz que a intenção de sua ONG era ser uma rede de apoio a crianças de baixa renda que tivessem sofrido abuso sexual. Mas, segundo ela, o número de menores que falam sobre isso ainda é muito pequeno. Acabou, assim, por se tornar uma rede de acolhimento para adultos que sofreram no passado e se reconhecem em sua história.

Ainda assim, trabalha com crianças. “Vamos a locais onde estão estudando ou praticando esporte e conversamos sobre isso”, conta. “Lógico que dentro da compreensão dessa criança, utilizando literatura infantil, como preconiza uma educação sexual que é oposto do incentivo à sexualidade precoce.”

 

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https://www.osul.com.br/a-nadadora-joanna-maranhao-viveu-momentos-dramaticos-mas-decidiu-enfrentar-isso-da-forma-mais-construtiva-que-encontrou/ A nadadora Joanna Maranhão viveu momentos dramáticos, mas decidiu enfrentar isso da forma mais construtiva que encontrou 2019-05-20
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