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Por Redação O Sul | 16 de março de 2019
Houve, poderia ser dito, uma falha na Força. Há muito tempo, quando o universo só tinha cem mil anos – uma massa em expansão de partículas e radiação –, um campo energético estranho foi ligado. Aquela energia banhou o universo com um tipo de antigravidade cósmica, possibilitando uma expansão pouco gentil do universo.
Então, depois de outros 100 mil anos, o novo campo simplesmente desapareceu, não deixando rastros além de um universo em aceleração. É essa a estranha história que está sendo divulgada por alguns astrônomos da Universidade Johns Hopkins. Em uma corajosa e especulativa volta ao passado, a equipe sugeriu a existência desse campo para explicar um enigma astronômico: o universo parece estar se expandindo mais rapidamente do que deveria.
O cosmo está se expandindo apenas 9% mais rapidamente do que a teoria supõe, mas essa ligeira discrepância tem intrigado os astrônomos, que acreditam estar revelando algo novo sobre o universo. Por isso, nos últimos anos, eles têm se reunido em workshops e conferências na busca por um erro ou brecha nas medidas e nos cálculos feitos anteriormente, até agora sem sucesso.
“Se formos levar a cosmologia a sério, esse é o tipo de coisa que precisamos ser capazes de levar a sério”, afirmou Lisa Randall, teórica de Harvard que tem examinado o problema. Em um encontro recente em Chicago, Josh Frieman, teórico do Laboratório Nacional de Acelerador Fermi em Batavia, Illinois, perguntou: “Até que ponto reivindicamos a descoberta de uma nova física?”.
Novas ideias estão surgindo. Alguns pesquisadores dizem que o problema poderia ser resolvido inferindo a existência de partículas subatômicas antes desconhecidas. Outras, como a do grupo da Johns Hopkins, estão evocando novos tipos de campos energéticos.
Contribuindo para a confusão, já existe um campo de força – chamado energia escura – que faz o universo se expandir com mais rapidez. E um relatório recente e controverso sugere que essa energia escura pode estar se tornando mais forte e densa, levando-nos a um futuro em que os átomos são dilacerados e o tempo acaba.
Por enquanto, a maioria dessas ideias não foi corroborada por evidências. Se alguma delas se provar verdadeira, os cientistas talvez tenham de reescrever a origem, a história e, talvez, o destino do universo. Ou tudo pode não passar de um equívoco.
Os astrônomos possuem métodos rigorosos para estimar os efeitos de ruídos estatísticos e outros erros randômicos em seus resultados; mas não tanto para distorções que não foram examinadas, os chamados erros sistemáticos. Como Wendy L. Freedman, da Universidade de Chicago, disse no encontro realizado na cidade: “O desconhecimento sistemático é o que pode nos levar para o fim.”
O problema de Hubble
Gerações de grandes astrônomos sofreram na tentativa de tentar medir o universo. No cerne da questão, há um número chamado a constante de Hubble, batizado em homenagem a Edwin Hubble, o astrônomo de Mount Wilson que, em 1929, descobriu que o universo está em expansão.
Enquanto o espaço se expande, transporta as galáxias para longe umas das outras, como uvas-passas em um bolo assando. Quanto mais distantes duas galáxias estiverem, com mais rapidez elas se afastarão. A constante de Hubble simplesmente dá essa medida.
Contudo, para calibrar a constante de Hubble, os astrônomos dependem de velas padrão: objetos, como explosões de supernovas e algumas estrelas variáveis, cujas distâncias podem ser estimadas pela luminosidade ou outra característica qualquer. É aqui que a discussão começa.
Até poucas décadas atrás, os astrônomos não conseguiam concordar com o valor da constante de Hubble: 50 ou 100 quilômetros por segundo por megaparsec. (Um megaparsec equivale a 3,26 milhões de anos-luz.).Em 2001, entretanto, um time liderado por Freedman e usando o Telescópio Espacial Hubble registrou um valor de 72. Para cada megaparsec distante de nós que uma galáxia se encontre, ela estará se movendo 72 quilômetros por segundo mais rápido.