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Por Redação O Sul | 24 de setembro de 2018
Em delação premiada homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-superintendente regional da Galvão Engenharia Jorge Henrique Marques Valença afirmou que pagou ao menos R$ 1 milhão em “propina” ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), em troca da liberação de recursos em obras contra a seca. A delação também aponta que outros três emedebistas recebiam propina dessas obras: o senador Fernando Bezerra, o ex-deputado Henrique Alves e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Eunício atualmente é candidato à reeleição ao cargo de senador pelo Ceará.
Na delação, mantida sob sigilo e obtida com exclusividade pelo jornal O Globo, Valença relatou que existia um pedágio de “7% a 8%”, a ser pago a título de propina a políticos do MDB, nos contratos do Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra a Seca), órgão federal sob influência política de Eunício, segundo o delator. A Galvão Engenharia, porém, considerou o valor muito alto e acertou um percentual de 5%, que era repassado à medida que a empreiteira recebia os pagamentos por seus serviços. O pagamento delatado por Valença foi referente à obra da Barragem Figueiredo, construída pela Galvão no interior do Ceará para o abastecimento de água de municípios afetados pela seca. A barragem foi concluída em 2013.
No sábado (22), o Globo revelou que o ex-executivo da Galvão delatou ter feito repasses via caixa dois a Lúcio Gomes, irmão do presidenciável do PDT Ciro Gomes, em troca da liberação de recursos do governo cearense, comandado à época por Cid Gomes – eles negam as acusações. Agora, a delação atinge também os políticos do MDB. Neste caso, a delação apresenta maior riqueza de detalhes sobre os pagamentos em relação a Eunício. Procurados, todos os citados negam o recebimento de propina.
No seu relato, Jorge Valença não diz se chegou a estar pessoalmente com os políticos do MDB alguma vez, apontando que negociava com operadores que diziam falar em nome deles. O executivo, no entanto, anexou recibos de doações, que qualifica como “pagamentos de propina”, para o diretório nacional do PMDB, que tinha Eunício como tesoureiro.
O delator afirmou que recebeu a cobrança de propina por meio do empresário cearense Ênio Ellery, que seria o responsável por operar o esquema no Dnocs com ajuda de um sócio. Segundo Jorge Valença, os dois operadores “afirmavam que os valores arrecadados seriam partilhados num primeiro momento entre Eunício Oliveira, Henrique Alves [ex-deputado] e Geddel Vieira Lima [ex-ministro da Integração Nacional], na proporção de 1,66% para cada”, disse o delator. Ainda segundo Valença, os pagamentos eram feitos em dinheiro vivo aos dois empresários.
“Eles eram encarregados de fazer a repartição e entrega dos numerários recebidos para os políticos beneficiados”, disse na delação.
A sistemática de pagamento para Eunício mudou a partir de 2011, relata Valença. Naquele ano, ele diz ter sido procurado por um ex-assessor do senador, César Pinheiro, e foi informado de que os repasses deveriam passar a ser feitos por meio de doações oficiais. “O declarante sempre apresentava dificuldades para viabilizar pagamentos em espécie, de forma que César Pinheiro o orientava a reservar o valor devido para realizar os pagamentos de propina em forma de doação eleitoral no período de campanhas”.
O delator apresenta comprovantes de doações ao PMDB feitas entre 2012 e 2014 que, em suas palavras, foram “realizadas em benefício de Eunício Oliveira como forma de pagamento de propina”. Os repasses por meio de doações oficiais totalizaram R$ 1 milhão. O delator não apresentou um valor total das entregas em dinheiro vivo e citou ter pago, em espécie, ao menos R$ 50 mil destinados ao senador emedebista.