Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 14 de setembro de 2019
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Mesmo Bolsonaro comete alguns acertos. Ao indicar Augusto Aras para procurador-geral da República, ele ignorou a lista “votada” pelos procuradores. Uma facção poderosa e articulada do Ministério Público da União gostaria de transformar em “fait accompli” o sistema de indicação do procurador-chefe, como uma espécie de eleição direta para cargo.
A lista é uma votação interna entre os procuradores, ou melhor, entre uma parte dos procuradores, filiados a uma sociedade particular, a Associação Nacional do Ministério Público. O clube exclusivo escolhe a sua própria chefia, funcional e institucional. O arranjo, obviamente, não consta da lei.
Não creio que Aras possa ser pior do que, por exemplo, Rodrigo Janot, ungido pelos seus pares de Associação, mas que causou um estrago irremediável nas instituições brasileiras, como no episódio vergonhoso (e impune até hoje) do acordo celebrado no breu da noite, com aquele conglomerado impoluto, a JBS.
Não há país que resista a tal armação – o dono de um grupo empresarial cheio de tramoias e rolos, gravando o presidente da República, sob os auspícios de um organismo de Estado, a Procuradoria-Geral da República, em troca da isenção de culpas e da absolvição antecipada dos seus inumeráveis delitos.
Bolsonaro quebrou mais uma vez o paradigma. Temer já havia antes nomeado Raquel Dodge, que era a segunda da lista. Um sinal de força, peitar uma comunidade que – através de muitos dos seus membros, não todos – adora ir além das prerrogativas, previstas na Lei e na Constituição, concedendo-se status de poder o que poder não é.
No Brasil pós-ditadura, como reação aos anos em que presidente, governadores, prefeitos e senadores eram biônicos, escolhidos em gabinetes herméticos, generalizou-se a sensação de que eleições diretas eram uma panaceia de todos os males e desvios, e resultariam na escolha de governantes e dirigentes mais honestos e eficazes.
Pura ilusão. Se ilusão não fosse, as universidades públicas, onde quase todos os reitores são escolhidos diretamente, não estariam no estágio em que se encontram, mal administradas, sucateadas, em estado lamentável de pobreza acadêmica – ilhas de ineficiência e de qualidade sofrível de ensino.
A área de ciências humanas, que deveria ser uma usina inovadora de formulações teóricas, antenada com as mudanças do mundo e com as demandas atuais, está parada no tempo, perdida no discurso ideológico, vociferando contra as elites – a quem eles mesmos pertencem. Não dão uma única pista para sair da crise, que não seja a chorumela de sempre.
A escolha direta, em certas instâncias como a universidade e o Ministério Público, sem a participação da sociedade, serve mais ao interesse corporativo, quase sempre em prejuízo do mérito, do esforço comum, do bem geral.
Nós somos mais espertos do que os outros. Só no Brasil que a eleição direta do procurador-geral ou do reitor de universidade era (e ainda é, em vastos círculos) vista como avançado e democrático. Eleição direta em todos os níveis, organismos e instâncias não chega a ser um problema, mas está longe de ser, necessariamente, uma solução.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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