Terça-feira, 23 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 21 de setembro de 2019
A polícia de Hong Kong lançou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que protestavam neste sábado (21), em mais um fim de semana de confrontos, depois que grupos pró-China derrubaram algumas das “paredes Lennon” com mensagens antigovernamentais, durante a madrugada. Segundo a imprensa local, vários manifestantes foram presos no 16º fim de semana consecutivo de protestos. As informações são do jornal O Globo.
Os manifestantes pró-democracia se dirigiram neste sábado para os escritórios do governo na cidade de Tuen Mun, onde alguns atearam fogo a uma bandeira chinesa, enquanto outros derrubaram cercas de madeira e metal e postes de trânsito para usar como barricadas nas estradas. Por causa dos tumultos nas ruas de Tuen Mun, a estação de metrô da região chegou a ser fechada por cerca de duas horas.
Em um outro ato, próximo a um terminal rodoviário e em uma das principais praças do território, a polícia também confrontou um grupo com spray de pimenta e balas de borracha.
Calvin Tan, de 22 anos, disse que a maioria dos manifestantes estava preparada para uma “luta a longo prazo”.
Dezenas de apoiadores de Pequim, por sua vez, destruíram alguns dos grandes mosaicos de post-it coloridos que pediam democracia. As “paredes Lennon” são uma homenagem à outra parede, erguida na década de 1980, em Praga, República Checa, após protestos contra o regime comunista de Gustáv Husák.
“Eu sou um homem chinês!”, gritava um que os apoiadores de Pequim quando confrontado por manifestantes.
A campanha “Limpemos Hong Kong” foi impulsionada pelo deputado pró-Pequim Junius Ho, que se transformou em uma das figuras mais odiadas pelos manifestantes.
Mas o manifestante Steve Chiu, que trabalha em finanças, disse que pessoas como Ho só dariam um novo impulso ao movimento pró-democracia.
“Por meio de atos provocativos como esse, ele ajuda a unificar os moderados e os líderes do movimento”, disse à agência de notícias Reuters. “É como uma onda. Às vezes, estamos em baixa e em outras na crista. Estamos subindo novamente.”
Em meio à série de conflitos, a organização Anistia Internacional acusou, na sexta-feira (20), a polícia de Hong Kong de usar a força excessivamente contra os manifestantes e chegou a denunciar “táticas ilegais”, em alguns casos consideradas como “tortura”.
“Aparentemente sedentas por represálias, as forças de segurança de Hong Kong mostram uma tendência preocupante de uso de táticas imprudentes e ilegais contra a população durante as manifestações”, denunciou Nicholas Bequelin, diretor da Anistia Internacional para o leste da Ásia.
A polícia de Hong Kong rejeitou as conclusões do relatório e afirmou em um comunicado que seus agentes “sempre demonstram muita contenção no uso da força”.
Os protestos, que começaram com manifestações pacíficas contra o governo de Hong Kong em abril por causa de um projeto de lei que permitiria a extradição para a China continental, evoluíram para uma contestação direta ao domínio do Partido Comunista sobre a antiga colônia britânica.
O projeto de lei foi visto pelos manifestantes como um desafio à autonomia política, jurídica e administrativa da cidade em relação a Pequim – no modelo conhecido como “um país, dois sistemas”, estabelecido quando Hong Kong foi devolvida à China pelos britânicos, em 1997.
Em junho, a chefe do Executivo local, Carrie Lam, anunciou a suspensão da medida, mas os manifestantes defendiam que ela fosse cancelada por completo, por medo de que o projeto pudesse ser ressuscitado.
O Partido Comunista, por sua vez, diz que a crise política – a mais grave enfrentada pela China desde o Massacre na Praça da Paz Celestial, em 1989 – é uma questão interna de Hong Kong e acusa o Reino Unido e os Estados Unidos de fomentarem a situação.