Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 9 de maio de 2025
Suportar cólicas, evitar anticoncepcional por medo de infertilidade ou se resignar com a perda da libido na menopausa são atitudes comuns entre mulheres que, muitas vezes, acreditam estar apenas cuidando da saúde. Mas esses e outros comportamentos se baseiam em mitos persistentes – e até prejudiciais – sobre o funcionamento do corpo feminino. A seguir, confira oito das crenças mais comuns sobre a saúde da mulher.
É preciso menstruar todo mês para ser saudável
A menstruação regular só é esperada quando a mulher está no período reprodutivo e não faz uso de nenhum método hormonal. Se ela usa anticoncepcional, por exemplo, pode deixar de sangrar sem qualquer prejuízo à saúde.
“O sangramento que ocorre durante o uso da pílula nem é uma menstruação de verdade”, explica Lia Cruz Vaz Da Costa Damásio, diretora de Defesa e Valorização Profissional da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Em quadros como endometriose, sangramento uterino aumentado ou dor pélvica, suspender o sangramento por meio do uso de hormônios pode até ser benéfico.
Outra exceção são os chamados extremos da vida reprodutiva – início da adolescência e perimenopausa –, quando ciclos irregulares são comuns e, em geral, não preocupam.
Já quando a mulher não está sob medicação e não menstrua por mais de três meses, é preciso investigar. Alterações hormonais, gravidez, problemas de tireoide ou síndrome dos ovários policísticos são algumas das causas possíveis.
É normal sentir cólica menstrual
Muitas pessoas aprendem desde cedo que sentir dor faz parte do “ser mulher”. Mas essa naturalização precisa acabar. “Mesmo quando não há nenhuma doença, se a cólica atrapalha o cotidiano, deve ser tratada. Sentir dor não é normal”, afirma a médica. A chamada dismenorreia primária ocorre sem alterações detectáveis nos exames. Já a secundária tem causas como endometriose, miomas ou infecções –todas com tratamento.
O primeiro passo costuma ser o uso de anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, que atuam sobre o aumento das prostaglandinas, substâncias ligadas à contração uterina. Em alguns casos, o anticoncepcional também pode ser indicado como parte do processo terapêutico.
Anticoncepcional engorda e causa infertilidade
Esse é um dos receios mais frequentes entre pacientes. “Mas os estudos mostram que os anticoncepcionais modernos não provocam ganho de peso quando comparados a grupos com mesmo padrão de alimentação, atividade física e metabolismo. O único método que tem impacto comprovado sobre o peso é o injetável trimestral, o acetato de medroxiprogesterona”, esclarece Damásio.
Outro temor comum é o da infertilidade. A médica reforça que o anticoncepcional não altera a fertilidade de base da mulher: “Se ela começa a tomar a pílula com 20 anos e para aos 40, a queda na fertilidade está ligada à idade, não ao uso da medicação”.
Ao contrário, a maioria dos métodos hormonais permite um retorno rápido à ovulação após a interrupção. E pílulas como a drospirenona ainda trazem benefícios extras, como redução de retenção de líquido e melhora da TPM, segundo a especialista.
Depois da menopausa, a libido acaba
A menopausa marca o fim da menstruação, mas não da vida sexual. “A libido é influenciada por hormônios, sim, mas também por fatores emocionais, psicológicos e de relacionamento”, afirma Damásio.
A queda do estrogênio pode causar ressecamento vaginal, o que, se não tratado, pode tornar as relações dolorosas e impactar o desejo. Mas existem tratamentos eficazes, como hidratantes vaginais e reposição hormonal local.
Além disso, mesmo após anos de menopausa, os ovários seguem produzindo uma pequena quantidade de testosterona, hormônio diretamente ligado ao desejo sexual.
Terapia de reposição hormonal causa câncer
Esse medo surgiu após a publicação do estudo WHI, que apontou uma leve elevação no risco de câncer de mama em usuárias de terapia hormonal combinada. “Esse aumento é de 0,2 a cada 10 mil mulheres, o que é estatisticamente pequeno”, explica a médica. Condições como obesidade e sedentarismo, por exemplo, elevam o risco de forma muito mais expressiva.
A reposição não causa câncer, mas pode acelerar o crescimento de células cancerígenas já existentes. Por isso é contraindicada para quem tem histórico pessoal de câncer de mama. Fora esses casos, pode ser benéfica para o alívio dos sintomas da menopausa e para a proteção óssea, cardiovascular e neurológica de algumas mulheres.
Depois da menopausa não é mais preciso ir ao ginecologista
“Vamos passar um terço da nossa vida após a menopausa. Os cuidados ginecológicos não acabam aí, eles mudam”, atesta a especialista. Exames como a mamografia e o Papanicolau continuam sendo importantes, a depender da idade e dos fatores de risco. Além disso, o ginecologista avalia a saúde genital, os níveis hormonais, o risco de osteoporose, alterações metabólicas e infecções urinárias recorrentes.
As consultas nessa fase também são essenciais para acompanhar a saúde emocional, sexual e o nível de atividade física da paciente.
Se eu não tenho sintomas, meu preventivo está em dia
O câncer de colo do útero é silencioso em suas fases iniciais. Por isso, esperar sinais como sangramento, corrimento ou mau cheiro é perigoso – nesses casos, a doença já pode estar avançada. O exame preventivo detecta lesões precursoras que podem ser tratadas antes mesmo de virar câncer.
O ideal é seguir as orientações atualizadas, que incluem o rastreio com Papanicolau e teste de HPV conforme a idade. O mesmo vale para o câncer de mama: o autoexame não substitui a mamografia e pode deixar passar alterações como microcalcificações, que são detectáveis apenas por imagem.
Toda coceira na vulva é candidíase
A candidíase é um diagnóstico comum, mas não é a única causa de coceira vulvar. “A gente estima que mais da metade dos casos diagnosticados como candidíase sem exame confirmatório esteja errado”, alerta a ginecologista. A coceira pode ser provocada por outras infecções, alergias, doenças dermatológicas ou até um desequilíbrio da flora vaginal, como na vaginose citolítica.
O uso de medicamentos antifúngicos sem orientação pode piorar o quadro ou mascarar o problema real. Por isso, ao sentir desconforto, o correto é buscar avaliação profissional para que o tratamento seja direcionado ao diagnóstico certo.