Quarta-feira, 16 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 28 de junho de 2020
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) anunciou que vai “apurar os fatos referentes à denúncia de plágio na dissertação do ministro Carlos Alberto Decotelli”. A suspeita é que o novo ministro da Educação tenha cometido plágio no trabalho apresentado em 2008 para a conclusão de um mestrado em Administração na instituição.
Em nota, a FGV afirma que o orientador da dissertação foi procurado e que, caso seja confirmado um “procedimento inadequado”, serão tomadas medidas administrativas e judiciais contra o novo ministro.
“A FGV está localizando o professor orientador da dissertação para que ele possa prestar informações acerca do assunto. Caso seja confirmado o procedimento inadequado, a FGV tomará as medidas administrativas e judiciais cabíveis”, afirma a instituição em nota.
Procurado pela TV Globo, o ministro Carlos Alberto Decotelli disse que, se cometeu omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas, e que, por respeito ao direito intelectual dos autores e pesquisadores citados, vai revisar seu trabalho. Caso sejam identificadas omissões, vai procurar viabilizar com a FGV uma solução para corrigi-las, disse o ministro.
O Ministério da Educação disse em nota que “o ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência e cujo conhecimento contribuiu sobremaneira para enriquecer seu trabalho”. (veja a íntegra ao final da reportagem)
Em seu currículo público na plataforma Lattes, Decotelli apresenta o título de “Mestrado profissional em Administração” obtido na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2008, com a dissertação “Banrisul: do Proes ao IPO Com Governança Corporativa”.
No entanto, na dissertação há trechos idênticos aos de um relatório feito em 2007 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O novo ministro não citou a CVM nas referências bibliográficas do trabalho.
Uma postagem nas redes sociais feita pelo professor universitário Thomas Conti deu início à discussão sobre plágio na dissertação do ministro. O professor analisou a tese do ministro Decotelli e disse que encontrou vários trechos literalmente copiados de outros, publicados antes, sem o devido crédito.
“Só do relatório que foi identificado, a gente tá falando de mais de 10% do texto final que tem trechos literais e isso 10%, considerando todo o texto. Se retirar a parte que é bibliografia, que é anexo, etc, é mais de 10%, bem mais de 10%”, afirma.
“Existe o bom senso de que as pessoas podem errar, podem fazer citações erradas, podem esquecer de marcar a pessoa ali, então esse bom senso existe, mas um percentual, pra gente considerar – a partir de tal limite é plágio, isso não existe”, completa.
O professor explica que encontrou evidências que precisam ser investigadas.
“Você usar trechos literais de uma outra obra é algo normal num trabalho acadêmico, é algo esperado que se faça. Mas sempre citar, as pessoas às vezes têm receio de citar, porque fala: é feio citar “X” autores em uma mesma página. Não, feio é não citar. Esta é uma situação que eu chamaria de grave”, afirma Conti.