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Por Redação O Sul | 28 de junho de 2020
Donald Trump não esperava enfrentar uma pandemia em pleno ano eleitoral nos Estados Unidos. O novo coronavírus capaz de parar um país e matar dezenas de milhares de pessoas em poucos meses embaralhou o debate de temas das eleições presidenciais norte-americanas de 2020, marcadas para novembro.
Na primeira semana de fevereiro, Trump vivia um dos melhores momentos desde que assumiu a Casa Branca, em 2017. A absolvição no processo de impeachment, os bons números de emprego e a falta de coesão entre os opositores no Partido Democrata pavimentavam o caminho à reeleição do republicano.
O fluxo da política, porém, tomou outro rumo com a escalada dos casos de Covid-19 nos EUA, sobretudo depois de março, quando Nova York começou a fechar estabelecimentos e impor ordens de ficar em casa graças ao rápido aumento nos contágios e nas vítimas. Os empregos, antes uma carta na manga de Trump, despencaram em uma velocidade jamais vista por causa da epidemia.
E, enquanto o vírus começava a assustar os EUA, o antes fragmentado Partido Democrata cerrou fileiras em apoio ao ex-vice-presidente Joe Biden — justamente o nome que Trump queria investigar segundo o inquérito de impeachment que fracassou no Congresso.
Antes favorito, Trump agora vê uma corrida mais acirrada. Ainda faltam quatro meses até as eleições presidenciais norte-americanas, marcadas para 3 de novembro, e as peças da corrida eleitoral podem se mover mais uma vez. Afinal, no início deste mesmo 2020, o impacto da Covid-19 nos EUA ainda não parecia tomar as proporções de hoje. Veja abaixo, em detalhe, como a pandemia do novo coronavírus reorganizou a corrida presidencial dos EUA.
postura de Donald Trump diante do novo coronavírus mudou desde os primeiros relatos da doença nos EUA, ainda em janeiro:
1) Efeitos do coronavírus: O presidente acreditava, no início, que os EUA estavam prontos para lidar com a Covid-19 e duvidava publicamente que ela geraria um grande número de vítimas. Meses depois, ele reconheceu que a doença deixaria dezenas de milhares de mortos no país.
2) Isolamento social: Inicialmente contrário a medidas mais rigorosas, Trump mudou de ideia, passou a defender que as pessoas permanecessem em casa e até discordou de governadores aliados que reabriam rapidamente o país. Depois, o presidente voltou a pedir o retorno das atividades, mesmo com os EUA atingindo mais de 2 milhões de casos oficiais.
3) Medicamentos: Trump defendia o uso da hidroxicloroquina nas primeiras semanas de pandemia, tema que gerou atritos com o médico Anthony Fauci, principal consultor da Casa Branca em epidemiologia. Com pesquisas que mostravam a pouca eficácia do medicamento nos casos de Covid-19 e com o aparecimento de outras substâncias mais promissoras, o presidente deixou de lado a defesa do remédio.
Essa postura errática do presidente dos EUA se traduz na oscilação do apoio a Trump, aponta o doutor em relações internacionais Carlos Gustavo Poggio, professor da Faap. “Houve no início até um aumento da aprovação, mas depois os eleitores começaram a perceber que ele lida de uma forma não satisfatória com a epidemia”, avalia. O professor pondera que, no entanto, o eleitorado ainda observa a reação da Casa Branca à pandemia, em um cenário que pode mudar.
“É a primeira grande crise que Trump tem que enfrentar no governo. O povo americano está julgando como ele lida com esse impacto”, afirma Poggio. Por outro lado, medidas como o pagamento de auxílio — cheques inclusive impressos com o nome de Trump — e de parte dos tratamentos de pessoas doentes com o novo coronavírus evitaram que outro tema difícil para os norte-americanos entrasse em pauta: o sistema de saúde.
O assunto envolve discussões sobre pagamento compulsório de impostos e, assim, não é unanimidade sequer entre o Partido Democrata, analisa Juliano Cortinhas, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).