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Edson Bündchen A última fronteira

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A teoria do “Big Bang” atribui ao universo cerca de 14 bilhões de anos. Hoje, essa tese é dominante junto a astrônomos e astrofísicos que pesquisam o assunto. Apesar desse quase consenso, outras hipóteses vêm sendo aventadas, no eterno e determinado esforço que habita a insaciável curiosidade humana. É desse jeito a ciência, e é assim que avançamos. A dúvida operando como uma espécie de dínamo, num questionamento perpétuo… Paradigma após paradigma. Entretanto, há algumas perguntas fundamentais que poucos ousam fazer, e mais raros ainda aqueles que intentam responder. Jim Holt é um desses destemidos que enfrentou o instigante desafio. Jornalista do The New York Times, Holt muniu-se da pergunta mais impactante da filosofia clássica e moderna e saiu pelo mundo buscando responder: “Por que existem as coisas e não simplesmente o nada?” A dúvida mais intrigante e aterradora, pelo menos para os não crentes, passava a ser pesquisada numa significativa gama de possibilidades, tão diversas quanto controversas. Como seria de supor-se, Holt fracassou na sua missão e voltou ainda mais atordoado do que quando iniciara a jornada.

Contudo, não conseguir responder ao questionamento mais misterioso, atraente e inquietante acerca de que modo tudo passou a existir não tem impedido que alguns outros limites e especulações, um pouco mais modestas, deixem de serem feitas. Uma das mais aguçadas mentes da atualidade, Yuval Harari, tem se ocupado em compreender e a ensinar não apenas o passado da humanidade, como ousadamente sondar o nosso futuro, munindo-se, para tanto, de amplo saber histórico e uma curiosidade do tamanho de Holt, talvez ficando a dever apenas no quesito presunção. Harari, contudo, não deixa de nos provocar de forma tão contundente quanto perturbadora, ao sugerir uma hipótese de que, em breve, poderemos ter computadores invadindo uma área até agora somente dominada por humanos: a subjetividade, ou a consciência de que nós somos nós mesmos, ou na linguagem filosófica, a ontologia do próprio ser. Computadores tendo noção de que sejam computadores, com acesso à realidade subjetiva que permitiu a edificação da sociedade, tal como a conhecemos. Nessa realidade imaginada, aquilo que hoje nos espanta com a vertiginosa ascensão da inteligência artificial, adquiriria um outro “status”, muito mais extraordinário, insondável e ameaçador.

Tanto a mente curiosa de Jim Holt, quanto a argúcia investigativa de Yuval Harari nos indicam um extremo do intelecto que não se aquieta e compõe o “mainstream” que norteia a ciência especulativa, composta por outros milhares de estudiosos que formatam, cumulativamente, o edifício do saber humano. Mas, paradoxalmente, ao tempo que auscultamos o insondável com o prodígio de nossas mentes, convivemos com bilhões de seres humanos, apetrechados com número semelhante de neurônios, e que não conseguem sequer reconhecer a própria ignorância, quanto mais acessar alguma noção elaborada acerca do mundo. São pessoas cujo cérebro, o mais extraordinário e complexo órgão humano, passa uma existência com baixíssimo uso, no mais monumental desperdício ao movimento de cooperação intelectual que demanda níveis crescentes no uso das maravilhas sinápticas que criam a magia, o sonho e nossa existência através da intersubjetividade.

Esse confronto entre as fronteiras do saber, do mais alto espectro até o mais raso conhecimento, demonstra o tamanho do desafio social, moral e filosófico que representa o resgate do processo educativo, amplo, geral e irrestrito, como repto humanitário. O atual abismo intelectivo entre seres da mesma espécie não apenas degrada a sociedade sob o ponto de vista moral, mas solapa as chances de competir com o assombroso avanço da inteligência artificial. Se Harari estiver certo, e os computadores puderem pensar um dia, as atuais querelas entre os humanos parecerão tão sem sentido quanto desafiar a lei da gravidade, reconhecendo que, pelo menos isso, até o momento, mesmo os céticos mais empedernidos não ousaram questionar.

 

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