Terça-feira, 21 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 30 de março de 2018
Um dos principais aliados e amigos do presidente Michel Temer, inclusive mencionado expressamente na carta em que o então vice-presidente se queixava à então presidenta Dilma Rousseff por falta de espaço e confiança, o ex-ministro da Secretaria de Portos Edinho Araújo (cargo que ocupou de janeiro a outubro de 2015) se livrou de uma prisão temporária no âmbito da Operação Skala, deflagrada na última quinta-feira pela PF (Polícia Federal).
A corporação havia incluído Edinho em uma lista de 17 nomes que deveriam ser conduzidos coercitivamente para prestar depoimento. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, decidiu pedir a prisão temporária de 13 deles, em vez da condução coercitiva, mas não viu elementos suficientes – ao menos por enquanto – para a prisão dos outros quatro, dentre eles o ex-ministro, hoje prefeito de São José do Rio Preto (SP).
De acordo com os investigadores da PF, Edinho Araújo precisa esclarecer os motivos que levaram à renovação do contrato de concessão do grupo Libra, “mesmo com dívidas pendentes de aproximadamente R$ 1 bilhão”. Apesar de não ter havido prisão temporária, Dodge pediu que houvesse “intimação simultânea” do prefeito, o que foi determinado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso. Ele já prestou depoimento à PF.
Barroso determinou a prisão de outros amigos de Temer: o ex-assessor especial da Presidência José Yunes, o coronel João Baptista Lima e o ex-ministro Wagner Rossi.
Carta
Em dezembro de 2015, o então vice-presidente da República enviou uma longa carta a Dilma Rousseff (que seria afastada no ano seguinte, pelo processo de impeachment). Em seu conteúdo – tornado público, o emedebista reclamava de falta de confiança da presidenta em relação ao PMDB (hoje MDB). No item 6, havia uma menção expressa a Edinho.
“De qualquer forma, sou presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me, chamando o líder Leonardo Picciani e o seu pai [Jorge Picciani] para fazerem um acordo sem nenhuma comunicação ao vice-presidente da República e presidente nacional do partido”, protestou. “Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.”
A carta foi uma espécie de materialização escrita dos movimentos de Temer e do PMDB em direção ao processo de impeachment, que meses depois culminaria no afastamento temporário e depois definitivo da líder petista, em seu segundo mandato (ela estava no cargo desde 2011). A partir daí, deu-se início à derrocada concreta da titular do Palácio do Planalto, em maio de 2016, quando Temer assumiu a Presidência interina. Em agosto, com a confirmação do afastamento de Dilma, o líder do PMDB virou presidente efetivo.