Sexta-feira, 27 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 26 de junho de 2025
As taxas de juros das linhas de financiamento são os números mais aguardados do Plano Safra 25/26, que será anunciado na próxima semana. No mercado financeiro, entre especialistas em crédito rural e até nos ministérios em Brasília, a avaliação é que as alíquotas vão subir de forma quase generalizada e acompanhar o compasso dado pela Selic, a taxa básica de juros, que saiu de 10,5% em julho do ano passado para 15% agora.
As apostas no mercado financeiro são que as taxas de juros do crédito rural vão ser elevadas entre 1 e 2 pontos percentuais na temporada que começa em julho. Há quem acredite que algumas alíquotas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) possam ser preservadas, como as cobradas para o custeio de produtos da cesta básica, de 3% ao ano.
Se a previsão de alta nos juros for confirmada, as taxas das operações de custeio e comercialização para médios produtores sairiam de 8% para 9% ao ano. Já para os grandes produtores as novas taxas podem ser de 13,5% ao ano, segundo as apostas entre bancos que operam o Plano Safra.
Na agricultura familiar, os juros “normais” são de 4% a 6%, e também podem aumentar entre 1,5 ponto porcentual e 2 pontos, acredita João Luiz Guadagnin, consultor em crédito e ex-diretor do MDA. O esforço do governo também é para manter taxas diferenciadas para a compra de máquinas de pequeno porte (atualmente em 2,5% ao ano) e para a agroecologia (2%).
“Creio que o Pronamp passará a ter taxas de 9% para alimentos de consumo interno, como arroz, feijão e mandioca, e de 11% para os demais”, disse Guadagnin.
A principal preocupação do governo é com a inflação dos alimentos, tema que afetou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início deste ano. A taxa de 9% ao ano também deve atender produtores que adotam boas práticas ou têm certificações sustentáveis.
Um executivo do setor financeiro disse que os médios produtores tendem a ser o público com maior escassez de recursos na nova safra e que, por isso, precisa haver aumento de taxas. “Não há orçamento para bancar a necessidade”, afirmou.
Não deverá haver espaço para juros controlados no custeio e comercialização de grandes produtores, que deverão ter taxas de 13,5%, acima dos atuais 12%, avaliou Guadagnin. Nos programas de investimentos, com equalização, os juros devem subir para 12,5% e 13,5%. Linhas diferenciadas, como o RenovAgro, podem ter juros mais baixos, de 9% a 10,5%, segundo ele. Já para a construção de armazéns, a estimativa é que as taxas fiquem entre 9% e 10,5%.
Tamanho dos juros
A definição dos juros depende essencialmente do espaço orçamentário que o governo terá neste e nos próximos anos para pagar a equalização, que é o gasto referente à diferença entre o custo que os bancos têm para captar dinheiro no mercado mais os seus spreads e as taxas que são cobradas dos agricultores na ponta. Com a alta da Selic, a distância desses dois índices aumenta, e isso significa gasto a mais para a União.
Há cerca de R$ 1,3 bilhão reservados no orçamento para a subvenção entre julho e dezembro. A definição, no entanto, passa pelo compromisso do governo de garantir espaço para esse custo nos orçamentos dos próximos anos.
A tentativa é de se buscar um equilíbrio para não elevar tanto as taxas a ponto de torná-las impeditivas aos agricultores nem mantê-las em patamar considerado baixo para o momento da economia, o que pode dificultar a capacidade de subvenção do governo e tornar o alcance das linhas de crédito limitado a poucos produtores.
No início desta semana, o Tesouro Nacional ainda fazia os cálculos de quanto irá custar a equalização do crédito para definir as alíquotas a serem cobradas dos produtores.