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Economia Bolívia tem corrida ao dólar em meio a uma crise de confiança

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O Banco Central da Bolívia tem martelado a frase “Somos Um País Estável” no Twitter. (Foto: Divulgação)

“Somos Un País Estable” (“Somos Um País Estável”), é o que o Banco Central da Bolívia tem martelado no Twitter neste mês, mas as longas filas de pessoas para comprar dólares sugerem o contrário.

As reservas cambiais da país vêm encolhendo há anos, ameaçando o regime de câmbio fixo (peg) do boliviano com o dólar americano. No dia 8 de fevereiro, último dado oficial disponível, restavam apenas US$ 372 milhões em reservas líquidas — insuficiente para cobrir três meses de importações do país — e US$ 3,5 bilhões em reservas brutas — que inclui o montante em ouro. O BC não atualiza dados da reserva cambial desde então e investidores se perguntam por quanto tempo a Bolívia pode evitar uma desvalorização.

Em um sinal do aprofundamento da crise, a agência de análise de risco Fitch rebaixou na terça-feira a dívida soberana da Bolívia para “altamente especulativo”, atribuindo-lhe a classificação “B-”, com perspectiva negativa. A Fitch citou o “aumento da incerteza sobre a capacidade das autoridades de administrar a situação, bem como sobre a gravidade, devido ao contínuo adiamento na publicação dos dados de reservas”.

O título da dívida da Bolívia com vencimento em 2028 era negociado na terça-feira a US$ 0,64, um nível que sugere que os investidores veem grande risco de default. O preço caiu de US$ 0,80 no início do ano.

Por trás da crise está um problema mais sério e de longo prazo: o modelo econômico boliviano das últimas duas décadas está falido. A nação de 12 milhões de habitantes prosperou durante anos com a exportação de gás natural para vizinhos, mas as reservas estão diminuindo rapidamente e, em 2030, a Bolívia provavelmente se tornará um importador de combustível.

Neste mês, o BC boliviano tomou a decisão pouco convencional de vender dólares diretamente ao público depois que os bolivianos reclamaram da dificuldade em encontrar a moeda americana em bancos e casas de câmbio. No domingo, o BC disse ter vendido US$ 24,1 milhões das reservas ao público entre 6 e 12 de março.

O presidente do BC, Edwin Rojas, disse que os compradores de dólares eram “vítimas de um processo especulativo”. Em comunicado, o BC afirmou que havia “atendido a demanda do público” por dólares na semana passada.

Mas as pessoas continuaram a formar filas do lado de fora da sede do BC em La Paz nesta semana para comprar dólares. Também formaram filas para acesssar agências do Banco Union — banco estatal autorizado a vender dólares — em Santa Cruz e Cochabamba.

A crise de confiança se espalhou na terça-feira para o Banco Fassil, instituição privada com US$ 4,2 bilhões em ativos. Os clientes correram para sacar as economias em meio a rumores, negados pelo banco, de que estaria prestes a sofrer uma intervenção do órgão regulador financeiro da Bolívia.

As pessoas fizeram fila do fora das agências para sacar dinheiro e algumas disseram à mídia local que só era permitido tirar menos de 10 mil bolivianos (US$ 1.451).

O Banco Fassil disse em comunicado que a crise foi causada por “interesses específicos orientados a gerar desestabilização no sistema financeiro boliviano”.

O Ministério das Finanças não respondeu aos pedidos de comentários e o BC repetiu informações já publicadas pela instituição.

Economistas disseram que os problemas econômicos da Bolívia estão profundamente enraizados e pedem medidas drásticas. “As reservas cambiais estão tão esgotadas que será muito difícil para a Bolívia evitar uma correção na taxa de câmbio e controles cambiais”, disse Ramiro Blázquez, chefe de pesquisa do BancTrust, da Argentina. “Eles podem aumentar as taxas de juros para tentar evitar uma desvalorização e, em algum momento, terão de fazer isso”.

Anos de políticas estatistas do governo socialista da Bolívia assustaram os investidores e impediram novos investimentos em exploração de petróleo e gás.

As reservas minerais de ouro da Bolívia podem ser uma fonte alternativa de reservas internacionais, mas são extraídas principalmente por operadores não registrados que contrabandeiam até US$ 2 bilhões por ano do metal precioso para fora do país, segundo algumas estimativas. O governo está tentando aprovar uma lei que permitiria ao banco central comprar ouro diretamente de mineradores informais e usar as reservas atuais com mais liberdade, mas a proposta está parada no Congresso.

A crise econômica ocorre em meio a uma luta política cada vez mais intensa entre o presidente Luis Arce e seu ex-aliado, o ex-presidente Evo Morales. Arce foi ministro das Finanças do governo de Morales, mas os dois se distanciaram por disputas internas no Movimento ao Socialismo (MAS).

“O governo tem muito pouco espaço de manobra”, disse Luis Prato, economista sênior da Torino Capital em Nova York. “Eles têm algumas possibilidades de curto prazo para obter liquidez, como vender SDRs do FMI [ativos de reserva] ou acelerar empréstimos de credores multilaterais, mas o maior desafio é o déficit fiscal, que será de 6,5% neste ano”.

A dívida da Bolívia era de cerca de 66% do PIB em 2022, mas a maior parte dela é junto a credores multilaterais. A dívida externa com detentores de títulos privados é baixa, de apenas US$ 2 bilhões, diz a Fitch. “Embora sejam valores baixos, a capacidade e a disposição do país de pagá-los podem ser questionadas, caso as reservas sigam caindo”, afirma a agência. As informações são do jornal Financial Times.

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https://www.osul.com.br/bolivia-tem-corrida-ao-dolar-em-meia-a-uma-crise-de-confianca/ Bolívia tem corrida ao dólar em meio a uma crise de confiança 2023-03-16
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