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Brasil Cidade berço do Bolsa Família dá 93% dos votos ao PT e teme a vitória de Bolsonaro

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O município de Guaribas fica a 642 km de Teresina. (Foto: Reprodução)

Quando foi divulgado o boletim da única urna do povoado de Cajueiro, município de Guaribas (a 642 km de Teresina), o burburinho começou. “Tu sabe quem foi?”, questionou Salvador Pereira dos Santos, 26. “Eu sei, foi da sua família”, retrucou um amigo. “Da minha nada. Meu primo disse que ia votar, mas era brincadeira, moço”, justificou o primeiro, em tréplica.

No distrito no qual vivem cerca de 300 moradores, apenas oito eleitores votaram em Jair Bolsonaro (PSL), candidato que terminou o primeiro turno em primeiro lugar na disputa pela Presidência da República. No restante da cidade não foi diferente: foram 58 votos para Bolsonaro contra 2.785 – ou 93,24% do total de votos – de Fernando Haddad (PT), o que fez de Guaribas o principal reduto petista do país nesta eleição.

Essa é a segunda vez que essa pequena cidade encravada na fronteira entre o Piauí e a Bahia ganha notoriedade nacional. A primeira foi em 2003, no início da gestão Lula, quando tinha o segundo pior desenvolvimento econômico e social do país e, por isso, foi escolhida como cidade-piloto para implantação do Fome Zero, programa que foi embrião do Bolsa Família.

Guaribas é uma cidade isolada de uma região pouco povoada do sertão nordestino. Seu principal acesso é uma estrada de terra de 52 km na qual é raro que carros sem tração nas quatro rodas não fiquem atolados.

Tem cerca de 4,5 mil habitantes e 1.078 beneficiários do programa Bolsa Família, única fonte de renda fixa da maioria da população. A agricultura de subsistência é a principal atividade, mas a seca que fere o solo arenoso faz com que a produção agrícola seja quase inexistente.

“Aqui, é o dia inteiro carregando balde de água na cabeça. A gente pega nas cacimbas [poços improvisados] que nós mesmo cavamos”, diz Eunice Jurema da Trindade, 58, moradora do povoado Queimadas de Angicos, onde a água encanada ainda não chegou.

Em Guaribas, o voto no PT tem zero de ideologia. Ninguém fala em direita ou esquerda, comunismo ou liberalismo. Não à toa o candidato a deputado federal mais votado na cidade foi Heráclito Fortes (DEM), um dos mais ferrenhos opositores do PT e que votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff – mas que foi apoiado pelo prefeito Claudinê Matias (PP).

Na hora da urna, a conta é simples: se a vida melhorou, votam no mesmo grupo político. Escândalos de corrupção e a prisão de Lula pouco importam. Em geral, predomina o sentimento de que todo político é corrupto e, “se Lula roubou, foi para ajudar aos pobres”, como diz o agricultor Joel Ferreira dos Santos, 55.

Sobre Jair Bolsonaro, pouco se sabe e até mesmo seu nome gera confusão. O candidato favorito a vencer no segundo turno das eleições foi chamado de Bolsoná, Bolsonário, Mecionário e até Missionário.

“Esse Missionário [Bolsonaro] para mim é um candidato que olha para os ricos. Ele é igual ao presidente que está aí hoje, o Michel Penha [Temer]. Tenho medo que vença e prejudique os pobres”, reclama o aposentado José Pereira da Trindade, 75, morador do povoado de Lagoa do Baixão.

Na outra ponta geracional, a pedagoga Cleudiane Matias, 26, diz se informar sobre os candidatos pela televisão e pela internet, usando a rede de wi-fi da única escola da comunidade. E critica propostas de segurança pública de Bolsonaro.

“Essa ideia de bandido bom é bandido morto choca o povo nordestino. Somos muito da ideia de que enquanto há vida há esperança”, diz ela, que segue votando no PT mesmo sendo uma dos cerca de 13 milhões de desempregados do país.

No povoado de Queimadas do Angico, também na zona rural, apenas 12 eleitores Bolsonaro. O sentimento de mudança não está no discurso dos moradores da pequena vila onde não há água encanada e as famílias consomem uma água barrenta retirada de poços improvisados cavados pelos próprios moradores.

“Se esse cabra ganhar, o Nordeste está morto”, diz a agricultora Iaraci Ribeiro da Rocha, 65, enquanto faz troça da proposta e flexibilizar o porte de armas: “Vou comprar uma. E aí, se alguém falar de mim, é tiro”, gargalha.

A três quilômetros dali, em Cajueiro, Bartolomeu dos Anjos, 35, assume-se como um dos votos de Bolsonaro do povoado. Diz que votou nele por tê-lo considerado um candidato experiente e também para “ser do contra”.

Para o segundo turno, no entanto, diz ter mudado de ideia: “Fiquei preocupado com a proposta dele para o meio ambiente”, diz Bartolomeu, que atua como brigadista no combate a incêndios do parque da Serra das Confusões, que margeia a cidade.

Mesmo com dores nas costas e um dos olhos quase cego por causa de catarata, a agricultora aposentada Maria Vicença Martins da Rocha, 57, ergue as duas netas no colo e sorri. Ela afirma que a vida melhorou: a casa ganhou eletricidade, reboco, pintura, móveis e eletrodomésticos. Só não abandonou o fogão a lenha – quando não há dinheiro para o gás, vendido por R$ 80 o botijão, ela recorre ao carvão.

Da porta para fora, a situação da cidade não mudou muito. Guaribas segue com infraestrutura precária e quase 100% das famílias da cidade dependem do Bolsa Família. Mesmo assim, Vicença diz que vai votar em Haddad, a quem conheceu pouco menos de dois meses pelo noticiário e pelo horário eleitoral. “Aqui, nós só votamos no candidato que Lula alumiou.”

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