Quinta-feira, 28 de março de 2024
Por Redação O Sul | 15 de dezembro de 2019
O número de apreensões de animais silvestres nas rodovias federais brasileiras disparou, e muitos bichos resgatados precisam de cuidados especiais.
De hora em hora, tem lanchinho na mamadeira. Um filhote de tucano que não tem nem dez dias de nascido e só tem chance de sobrevivência porque conseguiu vaga em uma espécie de UTI neonatal animal. “Ele é alimentado com uma papinha especifica para a espécie. Eles não conseguem manter alimentação no trato digestivo por muito tempo. Então, se ficar muito tempo sem comer, como ele é muito frágil, acaba morrendo”, fala a médica veterinária e analista ambiental do Ibama, Cecília Barreto.
Quase não tem mais espaço para tanto bicho silvestre na unidade do Ibama em Belo Horizonte. São aves que estão a centenas de quilômetros de casa por causa do comércio criminoso.
A maior parte destes animais que vão parar nos centros de triagem do Ibama foi capturada ainda no ninho. Lá, eles precisam de cuidados parecidos com os que teriam dos pais: alimentação ainda é no bico e como muitos ainda não têm penas, eles precisam de aquecimento artificial. Filhotes de arara, por exemplo, vão passar um ano se adaptando até chegar o dia de voltar para a vida livre.
O trauma da captura e o transporte em péssimas condições costumam levar, pelo menos, 20% dos bichos à morte.
Mais de 20 mil animais silvestres foram apreendidos entre janeiro e outubro deste ano só nas rodovias federais do Brasil. Números que já superaram os do ano passado inteiro.
Na BR-040, em Minas Gerais, o número de ocorrências disparou porque os traficantes estão aproveitando a época de reprodução de aves. “Com certeza existe uma quadrilha atuando nessa região. A grande dificuldade que nós temos é descobrir de onde esses pássaros estão saindo, visto que as pessoas que são flagrados fazendo o transporte não nos dão detalhes”, afirma o porta-voz da PRF mineira, Aristides Júnior.
Quem transporta, vende ou compra raramente fica preso. Recebe uma multa que varia de R$ 500 a R$ 5 mil por animal apreendido. Mas para dar um basta nessa covardia é preciso apelar para consciência.
“A gente tem que tentar conscientizar as pessoas. Não é nem porque vai ter uma multa, vai ter um crime. É porque, olha o que a gente está fazendo com a natureza. Eles podiam ser animais que estão soltos, de vida livre, fazendo sua função biológica, enfeitando que seja, e estão todos numa caixinha e vão gastar mais de ano para a gente conseguir devolver”, fala Cecília Barreto.