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Por Redação O Sul | 15 de dezembro de 2019
O novo governo argentino vai taxar em cerca de 30% gastos com produtos e serviços em dólar, como passagens aéreas de companhias estrangeiras, reservas de hotéis no exterior e mesmo plataformas digitais baseadas fora do país, como Spotify. A medida faz parte do projeto “solidariedade e reativação produtiva”, que o governo de Alberto Fernández prepara para estimular a economia em crise.
O plano foi confirmado pelo chefe de gabinete da Casa Rosada, Santiago Cafiero, em entrevista à Radio 10. No sábado, em entrevista ao jornal La Nación, Cafiero havia afirmado que o imposto seria de 20%.
“O imposto será de 30%, não de 20%. Tem uma lógica distributiva”, disse Cafiero à emissora de rádio argentina.
A ideia é implementar oficialmente o imposto antes do fim do ano. O objetivo é frear a saída de divisa estrangeira da economia argentina, que sofre com um câmbio desvalorizado.
O principal alvo do tributo são os argentinos que viajam ao exterior.
“Com isso, buscamos preservar os dólares que circulam na economia argentina e reativar a indústria turística local. A medida persegue uma lógica distributiva. Os segmentos que têm a capacidade de fazer viagens ao exterior vão pagar esse imposto”, disse Cafiero ao La Nación.
Conhecido como “dólar turista” ou “dólar cartão”, o imposto é semelhante àquele implementado em 2013 por Cristina Kirchner, hoje vice de Fernández. Naquela ocasião, o imposto surgiu com alíquota de 20%, mas taxa acabou sendo elevada para 35%.
Exportações agrícolas
Alberto Fernández, que tomou posse na última semana, anunciou neste sábado (14) um aumento das tarifas sobre as exportações agrícolas. A medida, que consta de decreto, é a primeira ação na área econômica do novo governo peronista e visa a estabilizar os preços dos alimentos no mercado argentino, bem como elevar a arrecadação nacional em meio à crise.
De todo o trigo que o Brasil importa, a Argentina é o principal fornecedor. A medida, portanto, pode ter impacto sobre os preços de derivados do trigo, como pão e macarrão, no mercado brasileiro. Mas ainda é cedo para dimensionar o efeito, segundo analistas, pois o Brasil poderia redirecionar suas compras para outros países, como EUA e Canadá, que também são grandes produtores do grão.
O consumo total de trigo entre 2017 e 2018 no Brasil foi de 11,3 milhões de toneladas, sendo que 54% foram importados, segundo dados do Sindustrigo, sindicato do setor. Mais de 80% de todo o trigo que o Brasil importa vêm da Argentina, de acordo com a Abitrigo, que representa a indústria de moagem nacional. Logo, as importações argentinas representam cerca de 40% do consumo nacional.
“Por ora, ainda é cedo para projetar aumento de preços dos produtos cuja base é o trigo”, explica Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da Consultoria Barral M Jorge.
O Brasil, numa redução das importações argentinas, tem canal de compra com Estados Unidos e Canadá. Mas é possível que, por conta do frete, haja algum impacto nos preços.