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Por Redação O Sul | 15 de setembro de 2019
Além do presidente e do vice-presidente da República, o Palácio do Planalto abriga gabinetes de quatro ministérios: Casa Civil, Secretaria de Governo, Gabinete de Segurança Institucional e Secretaria-Geral da Presidência.
Pela proximidade física e pela natureza do trabalho, os escolhidos para essas pastas costumam ser os mais próximos do mandatário – que deve retornar ao palácio nos próximos dias, após se recuperar de uma cirurgia.
Desde que Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a Presidência em janeiro, é possível perceber um novo perfil de ministros no Planalto, diferente na comparação com o os que circundavam o ex-presidente Michel Temer (MDB).
No lugar de políticos de longa data, Bolsonaro privilegiou pessoas de sua confiança e que o acompanharam durante a campanha eleitoral, além de mais militares — no geral, um grupo com menor histórico na política.
A equipe inicial de Bolsonaro era formada por: Onyx Lorenzoni (Casa Civil) Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral).
Fora Onyx, deputado federal desde 2003, os outros três eram considerados outsiders do mundo político e do grande público. Bebianno atuava como advogado no Rio de Janeiro, enquanto Heleno e Santos Cruz são generais da reserva do Exército.
A equipe, hoje, tem a seguinte configuração: Onyx Lorenzoni (Casa Civil) Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral).
Bebianno e Santos Cruz foram exonerados no primeiro semestre. O primeiro foi substituído pelo general Floriano Peixoto e, depois, pelo policial militar da reserva Jorge Oliveira. Este é amigo de longa data da família Bolsonaro e ex-chefe de gabinete de um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Santos Cruz foi trocado pelo general Luiz Eduardo Ramos, amigo do presidente há pelo menos 40 anos.
Atualmente, portanto, há dois generais, um policial militar da reserva e um deputado federal licenciado, tido como do baixo clero, junto a Bolsonaro no Planalto.
Temer alçou ministros com experiência
Na época de Temer, somente o ministro do GSI, general Sergio Etchegoyen, era militar. O restante – Eliseu Padilha (Casa Civil), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) – era políticos considerados da velha guarda, com conhecimento de eleições e de negociações partidárias no Congresso Nacional.
Os ministros que vieram a substituir Moreira Franco – Ronaldo Fonseca – e Vieira Lima – Antonio Imbassahy e Carlos Marun – também construíram carreira na política e estavam antes como deputados federais na Câmara.
Padilha, Vieira Lima e Moreira Franco eram exímios negociadores com parlamentares e se destacavam nos bastidores. A articulação deles foi essencial para que Michel Temer não fosse afastado da Presidência pela Câmara após três denúncias da PGR (Procuradoria-Geral da República) por suspeitas de corrupção envolvendo o grupo J&F, que controla a empresa frigorífica JBS, de Joesley Batista.
Ainda que Padilha e Moreira Franco trocassem farpas internamente de vez em quando, não permitiam que as discussões vazassem ou se tornassem um revés para o governo. Moreira Franco é conhecido pelo temperamento difícil e explosivo se confrontado.
O peso da inexperiência
Os responsáveis pela articulação política no Planalto de Bolsonaro chegaram à função sem a mesma experiência prévia. Em meio a tentativas do governo de estabelecer um bom relacionamento com parlamentares, houve episódios de ciúmes entre Onyx e Santos Cruz que, entre outros motivos, culminaram na exoneração do último.
O Planalto agora tenta contornar as reclamações de parlamentares de que Santos Cruz tinha muito rigor técnico.
O relacionamento com Ramos ainda não deslanchou com todos os grupos no Congresso. Diante de promessas de pagamentos de emendas feitas por Onyx ainda não cumpridas, a paciência de deputados e senadores segue volátil de acordo com o interesse deles nos projetos apresentados pelo governo.
Discrição
Outra característica pela qual os ministros de Bolsonaro se diferenciam dos antecessores é uma recusa à exposição excessiva, tanto em eventos quanto perante a imprensa. Com a exceção de Onyx, os outros procuram ser breves em discursos e não conceder entrevistas.
Luiz Ramos e Jorge Oliveira também chamam a atenção pelas declarações diplomáticas visivelmente calculadas para não afetarem as relações do governo com terceiros e projetadas para se afastarem das manchetes dos jornais.
A ordem implícita é prezar pela discrição e deixar que o presidente Jair Bolsonaro lidere a comunicação do Planalto.