Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de outubro de 2020
Para a maioria das pessoas, a covid-19 é uma doença breve e leve, mas algumas sofrem com os sintomas, incluindo fadiga contínua, dor persistente e falta de ar, por meses.
A condição conhecida como “covid persistente” está tendo um efeito debilitante na vida das pessoas, e histórias de ficar exausto mesmo depois de uma caminhada curta são comuns.
Até agora, o foco tem sido salvar vidas durante a pandemia, mas já existe um reconhecimento crescente de que as pessoas estão enfrentando as consequências de longo prazo de uma infecção por covid.
No entanto, mesmo as questões básicas — como por que as pessoas pegam covid persistente ou se todos vão se recuperar totalmente — estão repletas de incertezas.
O que é covid persistente?
Não há nenhuma definição médica ou lista de sintomas compartilhada por todos os pacientes — duas pessoas com covid persistente podem ter experiências muito diferentes.
No entanto, a característica mais comum é uma fadiga paralisante.
Outros sintomas incluem: falta de ar, tosse que não passa, dores nas articulações, dores musculares, problemas auditivos e de visão, dores de cabeça, perda de olfato e paladar, bem como danos ao coração, pulmões, rins e intestinos.
Foram relatados problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e dificuldade para pensar com clareza.
Isso pode destruir a qualidade de vida das pessoas.
“Meu cansaço é diferente de qualquer coisa que já tenha sentido antes”, disse Jade Gray-Christie, que enfrenta a covid persistente.
A covid persistente não é apenas o caso de uma recuperação lenta em UTI. Mesmo pessoas com infecções relativamente brandas podem ficar com problemas de saúde graves e duradouros.
“Não temos dúvidas de que a covid persistente existe”, disse à BBC o professor David Strain, da Universidade de Exeter, que já atende pacientes de covid há muito tempo em sua clínica de Síndrome de Fadiga Crônica.
Estudo
Um estudo com 143 pessoas no maior hospital de Roma, publicado no Journal of the American Medical Association, acompanhou pacientes após eles receberem alta.
Ele mostrou que 87% deles tinham pelo menos um sintoma de covid quase dois meses depois da internação, e mais da metade ainda apresentava fadiga.
No entanto, estudos assim analisam apenas a minoria de pessoas que acaba necessitando de tratamento hospitalar.
O aplicativo Covid Symptom Tracker — usado por cerca de quatro milhões de pessoas no Reino Unido — descobriu que 12% das pessoas ainda apresentavam sintomas após 30 dias.
Seus dados mais recentes, não publicados, sugerem que até 2% de todas as pessoas infectadas apresentam sintomas de covid persistente após 90 dias.
Você precisa ter um caso grave de covid para seguir com covid persistente?
Aparentemente, não.
Metade das pessoas em um estudo em Dublin (Irlanda) ainda apresentava fadiga dez semanas após a infecção pelo coronavírus. Um terço foi fisicamente incapaz de voltar ao trabalho.
Mais importante, os médicos não encontraram nenhuma ligação entre a gravidade da infecção e a fadiga.
No entanto, a exaustão extrema é apenas um sintoma de covid persistente.
O professor Chris Brightling, da Universidade de Leicester e investigador-chefe do projeto PHOSP-Covid, que está monitorando a recuperação de pacientes, acredita que as pessoas que desenvolveram pneumonia podem ter mais problemas por causa de danos aos pulmões.
Sintoma comum
A fadiga pós-viral ou uma tosse pós-viral são bem documentadas e comuns — provavelmente, todos nós já tivemos alguma infecção que demorou muito tempo para passar.
Cerca de uma em cada dez pessoas com febre glandular apresenta fadiga que dura meses. E houve até sugestões de que a gripe, principalmente após a pandemia de 1918, pode estar ligada a sintomas semelhantes aos do Parkinson.
“Com a covid, parece haver sintomas de longo alcance e o número de pessoas parece ser muito maior”, diz o professor Brightling.
A ênfase, porém, está na palavra “parece”, pois até que tenhamos uma imagem real de quantas pessoas foram infectadas, não saberemos exatamente o quão comuns esses sintomas são, diz ele.
Ele disse à BBC: “A singularidade da forma como o vírus ataca o hospedeiro e as diferentes formas como altera o comportamento das células parecem estar causando infecções mais graves do que outros vírus e sintomas persistentes”.
O número de pessoas com covid persistente parece diminuir com o tempo.
Porém, o vírus surgiu apenas no final de 2019, antes de se tornar global no início deste ano, portanto, faltam dados de longo prazo.
“Pedimos, deliberadamente, para seguir pessoas por 25 anos, certamente espero que apenas um número muito pequeno tenha problemas para além de um ano, mas posso estar errado”, disse o professor Brightling.
No entanto, existem preocupações de que mesmo que as pessoas pareçam se recuperar agora, elas podem enfrentar riscos para toda a vida.
Pessoas que tiveram a síndrome da fadiga crônica têm maior probabilidade de tê-la novamente e a preocupação é que infecções futuras possam causar mais surtos.