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Por Redação O Sul | 17 de junho de 2015
A peça “Crime Woyseck”, de Luciano Alabarse, volta a cartaz nesta quinta-feira (18), no Theatro São Pedro. A montagem reúne dois textos de autores aparentemente distanciados no tempo e no espaço, mas totalmente sintonizados em conteúdo e forma: “Woyzeck”, do alemão Georg Büchner (1813-1837) e “Crime”, do dinamarquês Peter Asmussen (1957).
Na sexta-feira (19), às 21h, após a sessão, haverá nova edição do Psicanalítica em Cena, com a palestra de Tércio Redondo, um dos maiores especialista em Büchner do Brasil, tradutor de peças em alemão.
O processo todo para a montagem se iniciou nas eleições de 2014, quando, entusiasmado e absorvido pelo roteiro do espetáculo, Luciano viu o Brasil se dividir em uma guerra ideológica. “Os embates partidários, de nível baixíssimo, aumentaram minha vontade de falar sobre política, autoritarismo, desigualdade e justiça social. E vi que tinha, em minhas mãos, o material certo para isso. Que ninguém espere ou cobre de mim reduções políticas de ordem dogmática ou partidária. A realidade, para desespero de muitos, é muito mais complexa do que o nós contra eles”, afirma.
“Ao perceber as incríveis aproximações entre dois textos aparentemente desvinculados, como os dois lados que se digladiavam em lados opostos da eleição – mais parecidos do que gostariam -, as possibilidades cênicas do roteiro pareceram espelhar, com argúcia, nosso tempo de confrontos absurdos. A pobreza atual, porém, igual à revelada no ‘Woyzeck’, de Büchner, esgarça as esperanças de um tempo mais justo. Resta, então, o mundo desajustado espelhado pelo ‘Crime’ de Asmussen. Épocas distintas e complementares, sintonizadas por temáticas correlatas, que, em seu estranhamento, amarram cenas, histórias, tempos e espaços”, complementa o diretor.
Escrita entre 1836-1837 e inacabada devido à morte precoce de seu autor, foi apenas a partir da década de 1920 que a obra “Woyzeck” passou a ter repercussão universal. Sua atualidade encontra eco no âmago de urgentes problemas contemporâneos. Na dissonância com a qual desqualifica a figura do herói clássico, por exemplo. O protagonista büchneriano pertence às mais humildes esferas trabalhistas, fato dramatúrgico inédito, e por isso mesmo é tratado como fantoche por seus pares e superiores. Woyzeck, o personagem, é coagido e desautorizado pela história. O automatismo de suas reações e o inventário de suas humilhações, sociais e individuais, o leva ao crime.
Reunir os “pedaços” de Büchner aos do “Crime” de Peter Asmussen se revelou um jogo cênico pertinente e complexo. O autor dinamarquês, nunca montado no Brasil e marcado por sua colaboração com o diretor Lars Von Trier, reúne em seu texto quatro cenas independentes, centralizadas em interrogatórios de dimensões e alcances distintos. A presente adaptação se vale, em seu prólogo, de fragmentos de “A Morte de Danton”, do próprio Buchner. Danton e Woyzeck, os heróis decaídos, têm a óbvia simpatia do autor. Mesmo assim, serão ambos submetidos ao julgamento popular por seus atos.
Elenco – Como também é comum em suas peças, Luciano aposta em atores jovens, mesclando com elenco já consagrado. Assim, Gabriela Poester, Gustavo Susin, Plínio Marcos, Laura Leão e Pingo Alabarce contracenam com Ida Celina, Zeca Kiechaloski, Mauro Soares, Elison Couto e Carlos Cunha Filho. A assistência de direção é de Alexandre Magalhães e Silva e Fernando Zugno e Miguel Arcanjo são os produtores.
Crime Woyseck – espetáculo de Luciano Alabarse
Dias 18, 19, 20 (às 21h) e 21 de junho (domingo, às 18h)
Theatro São Pedro – Praça Marechal Deodoro, s/nº – Centro Histórico / Porto Alegre
Ingressos:
Plateia: R$ 60 e R$ 30 (meia-estrada)
Camarote central: R$ 50 e R$ 25 (meia-entrada)
Camarote lateral e galeria: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)
À venda na bilheteria do Theatro São Pedro
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