Quarta-feira, 16 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 10 de fevereiro de 2018
O vídeo caseiro gravado em um iate, no qual a deputada federal Cristiane Brasil está cercada por quatro homens musculosos e em trajes de banho, em uma tentativa de minimizar a importância dos processos trabalhistas que a impedem de assumir o cargo de ministra do Trabalho, foi um tiro pela culatra. Não pegou bem. E apesar de todas as polêmicas sobre a indicação, a manutenção de seu nome indica ser tentativa de garantir os votos no Congresso para aprovar a reforma da Previdência e outras medidas de ajuste.
Cristiane Brasil, deputada pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), foi escolhida em 3 de janeiro para comandar o Ministério do Trabalho, mas desde então vem enfrentando uma multiplicação de polêmicas.
A Justiça Federal de Niterói a impediu de assumir o cargo por afrontar a moralidade administrativa, depois de revelado que ela sofreu duas condenações trabalhistas.
Um dia depois, o STJ (Superior Tribunal de Justiça), acionado pela AGU (Advocacia-Geral da União), liberou sua posse. No entanto, o STF ( Supremo Tribuna Federal) decidiu congelar o caso para tomar uma decisão definitiva.
“Nesse presidencialismo de coalizão, todos os partidos que compõem a base [aliada] são fundamentais. O PTB é um deles”, disse o analista político André César, da consultora Hold.
Neste momento, a reforma da Previdência é a agenda única do governo, que “fica pagando qualquer preço que for para aprová-la o mais rápido possível”, apesar disso continuar prejudicando sua baixa popularidade, acrescentou o especialista.
O PTB conta com 18 deputados e integra um bloco de 26 legisladores na Câmara, além de ter dois senadores.
Para ser aprovada, a reforma das aposentadorias requer o apoio inicial de 308 dos 513 deputados (três quintos dos votos) e depois de 49 dos 81 senadores.
Polêmicas
Cristiane Brasil, 44 anos, é filha do presidente do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson, condenado pelo “Mensalão”. Ele foi sentenciado a mais de dez anos de prisão, mas ao colaborar com a Justiça, acabou cumprindo 14 meses de prisão efetiva e foi indultado em 2016.
Ao comunicar a nomeação da filha, Jefferson chorou e disse que considerava o ato “um resgate” de suas próprias desventuras.
Mas Cristiane não é apenas a filha de Jefferson. Em 2016, a deputada votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, vestindo uma camiseta da seleção brasileira no plenário.
Agora, recentemente, seu vídeo em trajes de banho e a bordo do barco com seus amigos, deu o que muitos consideram um passo em falso. “Eu juro pra vocês que eu não achava que tinha nada pra dever a essas duas pessoas que entraram [na Justiça] contra mim. E eu vou provar isso em breve”, afirmou a deputada, a respeito dos ex-funcionários que entraram com processos trabalhistas contra ela. “Ação trabalhista toda hora a gente tem”, justificou um de seus amigos, que disse ser empresário.
A partir de então, a situação continuou piorando: o jornal O Estado de S. Paulo informou no fim de semana que Brasil também é investigada por supostos vínculos com traficantes durante a campanha de um de seus correligionários em 2010.
E a Rede Globo divulgou no domingo um áudio de uma reunião, em 2014, na qual Cristiane Brasil, então funcionária da prefeitura do Rio, parece constranger seus subordinados com a perda de emprego se não a ajudassem a conseguir votos para sua campanha como deputada.
Na última semana, a deputada afirmou não ter cometido qualquer ato ilícito e denunciou uma “campanha difamatória”. Afirmou que já saldou sua dívida com a Justiça trabalhista (foi obrigada a pagar indenizações de mais de 60 mil reais) e que agora está “sendo julgada política e não juridicamente”.
Sem arrependimentos
Quando indagado se se arrependia de ter nomeado Cristiane, Temer foi taxativo: “Não”. “Estou exercendo uma competência que, no dizer da Constituição, é privativa do presidente da República”, respondeu em uma entrevista à TV Band, prometendo recorrer a todas as instâncias judiciais para que a filha de seu aliado possa ser ministra.
A Presidência vê as decisões judiciais como uma intromissão na separação dos poderes e teme sofrer novos bloqueios durante a mudança de ministros que se avizinha.
Ao menos 13 dos 28 ministros com intenção de se candidatar às eleições gerais de outubro (presidenciais, legislativas e de governadores) devem deixar seus cargos em abril.