Terça-feira, 15 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 14 de julho de 2025
Esse alinhamento oscilou de forma negativa ao longo do governo Lula 3
Foto: ReproduçãoApós meses de desgaste político e enfrentamento direto em torno da crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Palácio do Planalto e parlamentares do Centrão se realinharam em um discurso em comum: a defesa dos interesses da economia nacional em reação às tarifas que o presidente americano Donald Trump pretende aplicar ao Brasil.
Esse alinhamento oscilou de forma negativa ao longo do governo Lula 3 e provoca um isolamento de aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro, que mantêm discurso em defesa da anistia para evitar a taxação a partir de 1º de agosto.
A ameaça de Trump e o afinamento dos discursos ajudaram a arrefecer o embate do IOF e sinalizam para um período de ânimos acalmados.
“Acho que já ampliou o leque de apoio ao governo, aproxima setores econômicos refratários, desgasta, como nunca, o bolsonarismo e refaz a relação harmoniosa entre Poderes”, diz o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Uma ala do Centrão avalia, porém, que esse alinhamento é pontual e tende a se desfazer depois que a crise com Trump for resolvida. Para esses parlamentares, o governo não pode se acomodar e ainda precisa investir em um diálogo mais produtivo com o Congresso e recuar do discurso do “nós contra eles”, que mirou principalmente no presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Oficialmente, os presidentes das duas Casas têm mantido a posição de busca por diálogo para solucionar o tarifaço.
Integrantes das cúpulas de partidos como PP, MDB, União e PSDB avaliam que o episódio do tarifaço pode ser o início de um enfraquecimento do bolsonarismo, com possível impacto na campanha eleitoral de 2026. Reservadamente, integrantes desses partidos ponderam, no entanto, que o caminho até lá é longo e que as “nuvens da política” mudam rápido. De acordo com congressistas, a efetividade ou não das tarifas de Trump pode ainda mudar a narrativa política vencedora. Por enquanto, esses líderes enxergam o governo com larga vantagem no lema de defesa da soberania.
“O que me chama atenção é essa capacidade de entreguismo do bolsonarismo. Eles colocam o boné (do Trump) e, ao mesmo tempo, se enrolam na bandeira do Brasil. É a definição de oportunismo. Houve esse alinhamento do governo com o centro, sim. Houve um sentimento de unidade. Quem tem sentimento de patriotismo tem que se unir. Eu acho que isso vai reacender essa unidade em defesa do Brasil”, afirmou o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA).
Outro episódio de proximidade entre governo e Centrão foi na tramitação da Reforma Tributária. A mudança no sistema de impostos, sob apoio do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSDMG), foi abraçada por Lula e teve direcionamento essencial do Ministério da Fazenda. A aprovação da Emenda Constitucional ocorreu em dezembro de 2023.
O clima começou a azedar pouco depois de Motta assumira cadeira. Sem um a pauta em comum, parlamentares se viram irritados com o que acusam de desorganização no pagamento de emendas e falta de diálogo. O Planalto, por sua vez, se viu provocado com diversos sinais da cúpula da Casa em pautar o projeto de lei que anistiaria envolvidos no 8 de Janeiro.
A crise se agravou quando o governo publicou o decreto de ampliação na cobrança do IOF. Parlamentares se sentiram “traídos” pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não comunicou a mudança com antecipação. Em troca, Motta e Davi Alcolumbre (UniãoAP) pautaram e aprovaram a derrubada do decreto. Uma conciliação foi marcada para esta semana pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
(Com informações do jornal O Globo)