Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 14 de julho de 2022
Os números terríveis da inflação americana em junho são um lembrete de que dias difíceis virão para muitos nos Estados Unidos e ao redor do mundo, especialmente para os segmentos mais vulneráveis da população e os países em desenvolvimento mais frágeis.
Não porque a inflação registrará outro pico em 40 anos ao longo dos próximos três meses. Não irá. Mas por causa dos danos já provocados e dos que estão por vir.
Ao bater nos 9,1% em junho, a inflação nos EUA medida pelo índice de preços ao consumidor (IPC) ficou bem acima da previsão média de 8,8%, registrando seu nível mais alto desde 1981. A medida núcleo da inflação – que exclui os preços de alimentos e energia – também foi maior que o esperado e os detalhes de composição aumentaram as preocupações.
Esse nível de inflação será um choque para muitos, especialmente para aqueles que foram falsamente tranquilizados pela narrativa do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que, desde o primeiro dia deste episódio de inflação, não conseguiu entender a dinâmica em ação e a gravidade do que estava por vir. Assim, não agiu pronta a decisivamente para evitar danos indevidos a tantos.
O número surpreendente, que estampará as primeiras páginas dos jornais e
dominará os programas de notícias e sites da internet, vai corroer ainda mais a já abalada credibilidade política do Fed e minará a eficácia de sua importante
ferramenta de orientação futura.
E este é um Fed que, ao contrário do Banco Central Europeu (BCE), ainda não
explicou por que errou na previsão da inflação por tanto tempo; e, ao contrário do Banco da Inglaterra (o BC britânico), ainda não está desempenhando o papel tecnocrático de um conselheiro honesto sobre o que está acontecendo na economia e por quê.
O Fed agora não tem escolha a não ser responder agressivamente. Certamente terá de subir a taxa de juro em 0,75 ponto porcentual neste mês e poderá muito bem considerar um aumento de 1 ponto porcentual.
Essa tardia reação política aumentará o risco de uma recessão, especialmente
levando-se em conta que a atividade econômica está desacelerando. Isso adiciona o mal da insegurança de renda à grave corrosão do poder de compra causada pela inflação – fenômeno que atinge especialmente a população de baixa renda.
Felizmente, a inflação cairá nos próximos três meses. Essa é a boa notícia. Menos boa é a contínua disseminação das pressões sobre os preços, que ficou evidente nos detalhes de hoje. Isso aumenta a considerável incerteza que envolve a rigidez de um processo de inflação que o Fed permitiu que se enraizasse mais na economia.
Como tal, e especialmente se o Fed não agir rapidamente, seria tolice descartar uma terceira onda de pressão inflacionária que interromperia a reverteria a trajetória de queda dos próximos três meses.
As implicações de tudo isso vão além dos EUA. Essa inflação alta e a reação de
política monetária que ela acarretará, alimentarão o fenômeno dos “pequenos
incêndios por toda parte” e é muito preocupante para os países em desenvolvimento que já enfrentam insegurança alimentar e energética.
Os países em desenvolvimento agora enfrentam um aperto adicional das condições financeiras globais, além da maior valorização do dólar, que agrava a inflação importada desses países e ameaça desestabilizar a sustentabilidade de suas dívidas e os mercados financeiros internos.
Não tenha dúvidas: os números mais recentes da inflação são um sinal de
turbulência à frente, especialmente para os segmentos mais vulneráveis da
sociedade nos EUA e ao redor do mundo.
E pensar que muito disso poderia ter sido evitado se o mais poderoso banco central do mundo tivesse sido mais reativo com suas ferramentas de política – e não tivesse se prendido tão obstinadamente à sua posição de que a alta da inflação no ano passado era apenas “transitória”.