Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de setembro de 2023
O parcelamento sem juros no cartão de crédito (PSJ) foi alvo de recentes críticas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que apontou o método como um dos principais responsáveis pela alta da inadimplência. Conforme o instituto de pesquisas Datafolha, essa forma de pagamento é utilizada por 75% dos usuários de cartão de crédito. A discussão sobre o fim da modalidade de crédito tem gerado preocupação entre comerciantes e consumidores.
Mislene Lima Brandão Bastos, CCO da Multi Chef, marca de utensílios de cozinha, explica que o fim do parcelamento sem juros pode afetar diretamente os consumidores. “O poder do parcelamento trás para as pessoas um poder de programação de compras, no qual os sonhos materiais e as necessidades conseguem ser realizadas mais rapidamente do que se houvesse uma programação financeira para um pagamento à vista, por exemplo”, diz.
O momento também requer a atenção dos comerciantes. Segundo Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial e Country Manager da Savel Capital Partners, os possíveis impactos e prejuízos incluem “queda nas vendas, redução do faturamento de lojistas e varejistas, além de possíveis demissões, dificuldades no acesso às compras e efeitos na cadeia produtiva”.
As lojas de vestuários/joias (54%), bens duráveis (39%) e farmácias (34%) estão entre as mais usadas pelos consumidores para parcelamento no cartão de crédito. De acordo com Evelyn Bueno, diretora jurídica da SumUp para a América Latina, grandes, médias e pequenas empresas poderão sofrer de formas diferentes caso a medida seja adotada.
“As grandes empresas possuem diferentes formas de obter financiamento para sua operação, por meio de bancos, mercado de capitais, captações no exterior, entre outros. Os pequenos e médios empreendedores, que são a base da economia nacional, têm menos alternativas, e retirar uma delas causaria grande impacto em suas operações”, explica Bueno.
Crédito rotativo
A diretora jurídica da SumUp para a América Latina também explica que o BC poderia recorrer a outras opções antes de taxar o parcelamento do cartão de crédito. “A educação financeira deveria estar sendo discutida antes de retirarmos de pequenos e médios empreendedores uma de suas ferramentas para previsibilidade de fluxo de caixa, além de instrumento relevante para consumo das famílias”.
O rotativo é um tipo de crédito oferecido ao consumidor quando ele não paga o valor total da fatura até a data de vencimento. O valor não pago é transferido para a próxima fatura com acréscimo de juros altíssimos. Para o presidente do BC, o parcelamento das compras resulta em um grande número de não pagamentos, o que faz com que os juros do rotativo sejam cada vez mais altos, chegando a 480% no início de agosto.
Em agosto, Campos Neto sinalizou o término do rotativo. “A gente tem 90 dias para apresentar uma solução, e a solução que está se encaminhando é que não tenha mais o rotativo. Que o crédito vá direto para o parcelamento e que seja uma taxa ao redor de 9%. Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento”, declarou em sessão do Senado.
Discordância
Mais recentemente, o presidente do BC negou que tenha proposto acabar com o PSJ. “Você tem uma equação difícil de equilibrar. De um lado, você entende que o parcelado sem juros é muito importante para o consumo e ninguém propôs em nenhum momento acabar com o parcelado. A ideia que estava sendo discutida é como posso fazer para que isso não continue crescendo de forma desenfreada. Ou seja, tenha um desincentivo marginal ao parcelamento muito longo”, disse Campos Neto.
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se pronunciou descartando a possibilidade da imposição de juros no parcelamento. “Nós herdamos uma taxa de juros absurda do rotativo e vamos ter que equacionar [essa questão], mas [a solução] não passa por prejudicar o consumidor que está pagando as contas em dia.”
O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Décio Lima, diz que é essencial pensar nas pequenas empresas. “Precisamos dar garantia para que as micro e pequenas empresas tenham longevidade e segurança. O parcelamento com taxação é inimaginável frente às naturais dificuldades econômicos enfrentadas pelo setor na voracidade própria do mercado. Os pequenos precisam ser protegidos para continuar tracionando a economia brasileira”, argumenta Lima.