Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 4 de junho de 2024
Na Geórgia, manifestantes levantando bandeiras da União Europeia protestaram contra o que consideram líderes pró-Rússia. O governo da Moldávia faz pressão para entrar no bloco, enfurecendo cidadãos com esperança de relações mais próximas com Moscou. A Armênia também acenou para a Europa, enfurecida em razão do Kremlin, um aliado de longa data, estar cortejando seu inimigo Azerbaijão.
Alimentadas em parte pela guerra na Ucrânia, tensões têm aumentado em algumas ex-repúblicas soviéticas, contrapondo cidadãos favoráveis a relações mais próximas com a Rússia a indivíduos mais orientados na direção da Europa.
Muitas dessas tensões antecedem a guerra, arraigadas em duradouras lutas domésticas por poder, dinheiro e outras questões, mas têm sido amplificadas pela geopolítica à medida que a Rússia e o Ocidente pressionam os países a escolher de que lado se posicionam.
Por toda a ex-União Soviética, “o contexto atual é completamente moldado pela maneira que a guerra na Ucrânia radicalizou a competição entre a Rússia e o Ocidente”, afirmou Gerard Toal autor de “Exterior Próximo”, um estudo sobre as relações da Rússia com Estados anteriormente soviéticos.
Temendo perder sua influência, Moscou emitiu alertas contundentes a países como Geórgia e Moldávia: lembrem-se do que aconteceu na Ucrânia. Sem ameaçar invadir nenhum dos países, o Kremlin apontou para o tumulto e o derramamento de sangue que se seguiram à Ucrânia pender para o Ocidente após a revolta popular de 2014 que depôs o então presidente pró-Rússia.
Moscou também espera que seus recentes sucessos nos campos de batalha no leste da Ucrânia possam ajudar a reverter os muitos reveses ao seu prestígio e influência que sofreu numa série de ex-repúblicas soviéticas anteriormente nesta guerra.
“Campanhas russas de informação têm alimentado essa ideia de que um alinhamento mais próximo com o Ocidente ameaça provocar uma guerra que somente a Rússia é capaz de vencer”, afirmou o ex-ministro de Relações Exteriores da Moldávia Nicu Popescu. “Tudo depende da Ucrânia.”
Com o desfecho da guerra parecendo cada vez mais incerto, “o desconforto do Ocidente agrada à Rússia”, afirmou o especialista em ex-União Soviética Thomas de Waal, do instituto de pesquisa Carnegie Europe.
Moscou tem muito território para recuperar e algumas de suas perdas podem ser irreversíveis. Distraída pela guerra e determinada a expandir suas relações com o Azerbaijão, a Rússia rifou no ano passado uma de suas aliadas mais próximas, a Armênia, ordenando que tropas de paz russas não interferissem quando soldados azerbaijanos tomaram Nagorno-Karabakh, um enclave montanhoso em disputa. Posteriormente, a Armênia afirmou que considera se candidatar a aderir à União Europeia e abandonar um pacto de segurança liderado pela Rússia.
A Moldávia intensificou seus esforços para aderir à União Europeia, que em 2022 concedeu ao país status de candidato. Na semana passada, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, visitou a Moldávia para demonstrar o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia e seus vizinhos que poderiam estar potencialmente em risco.
Mas mesmo na Geórgia — que foi invadida pela Rússia em 2008, perdeu 20% seu território para separatistas apoiados por Moscou e alberga profundos sentimentos anti-Rússia — uma minoria substancial ainda prefere melhorar as relações, pelo menos econômicas, com os russos.
“Não que eles gostem da Rússia, eles têm medo da Rússia”, afirmou o diretor dos Centros de Recursos de Pesquisa do Cáucaso, Koba Turmanidze, um instituto de pesquisa em Tbilíssi, a capital da Geórgia.
Segundo De Waal, do Carnegie Europe, mesmo que não queira se envolver no conflito na Ucrânia, a Geórgia “percebe que o vento está soprando mais a favor da Rússia na guerra. E está pendendo para Moscou ao mesmo tempo que tenta permanecer não alinhada”.
O governo georgiano — apesar de oficialmente estar se esforçando para juntar-se à União Europeia, um objetivo amplamente apoiado pela população — tem usado o medo da retaliação russa para justificar sua recusa em aderir às sanções europeias contra Moscou.
O partido governista, Sonho Georgiano, afirmou Turmanidze, jamais afirmaria que está do lado da Rússia contra a Ucrânia, porque “seria um suicídio político”, dada a hostilidade do público em relação a Moscou. Mas o partido tem dados passos, notavelmente com uma controvertida lei sobre influência estrangeira que desencadeou semanas de protestos de rua, “em estilo russo”, acrescentou ele.
Manter a influência sobre ex-repúblicas soviéticas tem sido um objetivo de Moscou desde o início dos anos 1990, mas esse esforço recebeu uma nova ênfase em um “conceito de política externa” revisado, assinado pelo presidente Vladimir Putin no ano passado.
O documento comprometeu a Rússia a evitar “revoluções coloridas”, termo que Moscou usa para se referir a levantes populares, “e outras tentativas de interferir nos assuntos internos dos aliados e parceiros da Rússia” e “evitar e se contrapor a ações inamistosas de Estados estrangeiros”.