Quinta-feira, 24 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 12 de junho de 2020
As primeiras imagens do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em ação dentro de células infectadas obtidas com microscopia eletrônica revelaram novas informações sobre os mecanismos usados pelo vírus para se espalhar pelo corpo e causar a Covid-19.
O estudo, pioneiro no mundo, reuniu pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de São Paulo (USP) e indicou que ele usa mecanismos até agora desconhecidos em coronavírus para atingir diferentes órgãos.
Além de abrir caminho para entender melhor como a Covid-19 se agrava, a pesquisa permite avançar na pesquisa de alvos farmacológicos, drogas que realmente destruam o vírus. A microscopia eletrônica de varredura possibilitou mergulhar no campo de batalha entre o Sars-Cov-2 e as células invadidas. De tão pequeno, ele é invisível para os melhores microscópios óticos.
Em média, os cientistas ampliaram as imagens mais de 80 mil vezes, uma delas chegou a 229 mil amplificações; mais do que isso, perde-se a resolução, explica o principal autor do trabalho Lucio Ayres Caldas, do Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer e do Núcleo Multidisciplinar de Pesquisas em Biologia, ambos da UFRJ.
No trabalho submetido à revista Scientific Reports, da Nature, os cientistas relatam a descoberta de que o Sars-Cov-2 não precisa esperar a células invadidas se romperem para se espalhar pelo corpo. Ele também usar outros meios.
“Encontramos indícios de que as células infectadas fazem uma espécie de projeção, nanotubos, aderem umas às outras e o coronavírus se propaga assim também”, explica Wanderley de Souza, do mesmo laboratório de Caldas, também autor do estudo e um dos decanos da ciência brasileira.
“Esse vírus e sua doença têm surpreendido a todos. Estudamos sua interação com as células justamente para encontrar formas para derrotá-lo”, frisa Caldas.
O trabalho é parte de um projeto maior apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e emprega alguns dos equipamentos mais modernos do Rio de Janeiro, como os microscópios eletrônicos de varredura do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio), na UFRJ. Também é imprescindível o laboratório de segurança de nível 3 (NB3) do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, coorderdenado por Amílcar Tanuri, um dos autores do estudo.