Segunda-feira, 23 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de julho de 2023
A comissão executiva nacional do PDT decidiu promover uma intervenção no diretório estadual do Ceará, epicentro de uma disputa entre o senador Cid Gomes e seu irmão, o ex-ministro e presidenciável em 2022 Ciro Gomes. A decisão, com voto de Ciro, significa que a cúpula do PDT em Brasília chamará para si a gestão do partido no Estado até dezembro deste ano, quando se encerra o atual mandato no diretório. Cid, por sua vez, declarou após a reunião que não reconhece a existência de uma “intervenção”.
A medida capitaneada pelo grupo de Ciro busca barrar a tentativa de Cid, com apoio da maioria dos dirigentes partidários no Ceará, de assumir o comando estadual da sigla. O senador havia convocado uma reunião do diretório cearense para esta sexta-feira (7), aprovada por dois terços dos membros, para pautar a destituição do atual presidente do PDT no estado, deputado federal André Figueiredo, aliado de Ciro.
Ao saber da intervenção, Cid questionou a ala mais alinhada ao irmão se desejam que ele e seus aliados saiam do PDT. A resposta, no entanto, foi negativa, segundo participantes da reunião.
Figueiredo é também o presidente nacional em exercício do PDT; com a intervenção, portanto, ele manterá sua ascendência sobre o partido no Ceará. O deputado se absteve de votar na reunião de segunda (3), mesma posição adotada por Cid e pelo ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT.
“A executiva nacional avocou a gestão do PDT no Ceará. A movimentação que vinha ocorrendo no diretório estadual gerava um acirramento ainda maior no partido. Queremos pacificar” disse Figueiredo.
Em entrevista coletiva ao lado de correligionários, em seu gabinete no Senado, Cid criticou as declarações de Figueiredo e afirmou que “a palavra ‘intervenção’ não foi colocada nenhuma vez na reunião”. Segundo o senador, a executiva nacional do PDT aprovou uma resolução dirigida ao Ceará na qual reafirmou sua prerrogativa do artigo 67 do estatuto do partido, que permite “instaurar ou avocar a si qualquer processo relacionado à falta ética ou disciplinar” de seus filiados, inclusive em casos de competência dos diretórios estaduais.
Aliados de Cid interpretaram o movimento como uma tentativa de colocar uma “faca no pescoço” do grupo que deseja assumir o PDT no Ceará. Nos bastidores, correligionários de Figueiredo afirmam que a reunião marcada para sexta-feira pelo senador, com o objetivo de destituir a atual direção estadual, pode configurar ato de indisciplina partidária – o que, de acordo com a resolução, seria avaliado e punível pela executiva nacional.
Cid, no entanto, garantiu que manterá a convocação do diretório para sexta-feira e reforçou ter o apoio da maioria dos deputados e prefeitos do PDT para presidir o partido no Estado.
“Isso (falar em intervenção) é um flagrante desrespeito à verdade dos fatos. Uma visão absolutamente equivocada, para não dizer outra coisa. A meu juízo, usurpação de poderes é você, sendo minoritário, querer persistir no comando do partido. Quem deve falar pelo PDT é uma pessoa que representa 20% de seus mandatários ou alguém que representa 80%?”, questionou Cid.
O anúncio da intervenção no Ceará marca um acirramento do racha no PDT, simbolizado pelos irmãos Ciro e Cid. De um lado, aliados de Cid defendem que o partido se reaproxime do PT e ingresse formalmente na base do governador petista Elmano de Freitas no Ceará. De outro lado, correligionários mais próximos a Ciro, grupo que inclui Figueiredo e o atual prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira (PDT), pregam uma postura de oposição ao PT no Ceará, na linha adotada pelo presidenciável pedetista em 2022.
A reunião da executiva nacional do PDT, realizada em Brasília nesta segunda, teve momentos de “tensionamento”, segundo participantes relataram. Cid se reuniu pela manhã em sua casa com um grupo de aliados, incluindo deputados estaduais e prefeitos que viajaram a Brasília, antes de seguir para a reunião. Ciro, por sua vez, participou por videoconferência.
Além de Ciro, votaram a favor da intervenção no Ceará o ex-ministro do Trabalho e atual secretário-geral do PDT, Manoel Dias; a ex-deputada e atual secretária de relações internacionais do PDT, Juliana Brizola; o secretário adjunto André Menegotto; o tesoureiro Marcelo Panella; e os vogais Marli Rosa de Mendonça e Sirley Soares Soalheiro.
Na semana passada, Cid havia se reunido com aliados em Fortaleza para organizar o movimento de tomada do comando partidário no Ceará. O grupo ligado ao senador procurou Lupi, presidente licenciado do PDT, para tentar uma solução antes da reunião marcada para o dia 7.