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Colunistas Lembranças que ficaram (9): Por que Alto da União?

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Meu primeiro passeio na vida, foi com 60 dias de idade, em Setembro de 1939 quando com meu pai e minha mãe, em seu Ford 29, fomos à casa da tia Rosa e do tio Vitório Brum, colonos no interior da localidade de Barreiro no município de Ijuí., dentro da Picada Conceição. Morávamos no povoado Faxinal (atual Dr. Bozano) e fomos, via ALTO DA UNIÃO, localidade pequena, onde terminava o campo e começava uma enorme floresta que dividia da outra área de campo aberto onde eram as Missões Jesuíticas. Entre essas zonas de campo aberto, uma densa e impenetrável floresta dominava todo o Noroeste do RS até o Rio Uruguai. Ainda no final do Século XIX, para ir de Cruz Alta a Santo Ângelo tinha que contorná-la o que demandava uns 8 dias, a cavalo ou carroça. Então, na base do facão e machado abriram a tal Picada Conceição que ligou esses campos e que foi por onde, anos depois, a Coluna Prestes passou, vindo de Santo Ângelo. A Picada Conceição passava por um local que chamavam de Barreiro, onde tem uma vertente de água que forma “um barreiro” e dizem ser um afloramento do “Aquífero Guarani” assim como são as águas minerais de Iraí, Itaí, Ijuí e Santa Teresa. Pois meus tios moravam um pouco adiante do tal “barreiro” no meio da tal floresta.

A colonização de IJUHY (Ijuí), literalmente, no meio do mato, começou com colonos alemães, poloneses, italianos, russos, letos, judeus, teutos, africanos, índios, portugueses, austríacos, húngaros, ucranianos e outras etnias, enfrentando todas e as mais homéricas dificuldades e uma guerra fraticida sem princípios ou respeitos entre Republicanos e Federalistas, chamados de Chimangos e Maragatos. O medo, a confusão e a desarmonia se instalou entre os colonos. Um grande homem de bem, Engº AUGUSTO PESTANA, seguido por outro, ANOTNIO SOARES DE BARROS (o CORONEL DICO esse mesmo, da Casa Dico) com paciência harmonizaram as relações e a convivência.

A fratricida e desumana guerra que grassava pelo Rio Grande entre Maragatos e Chimangos prejudicava as famílias que chegavam provenientes da 4ª Colônia de Santa Maria e outras regiões e isso tinha que acabar.

Foi aí então que o Engº Augusto Pestana tomou a frente e se propôs “a dar um jeito”. Marcou um encontro entre Chimangos e Maragatos, no alto de uma coxilha, onde três lindas figueiras dominavam a paisagem, ainda em campo aberto, próximo a borda da floresta que estava sendo colonizada, onde havia um pequeno povoado conhecido como “Bom Sucesso” na região chamada “Serra da Conceição”, em direção à Ijuí.

O Engº Augusto Pestana promoveu um churrasco e botou na mesa, de um lado os Chimangos partidários de Borges de Medeiros, e do outro, frente a frente, os Maragatos liderados por Assis Brasil. Do lado dos Republicanos conhecidos como ‘Chimangos’ estavam o próprio Augusto Pestana, Augusto Hintz, Albino Brendler, Carlos Zimpel e Carlos Lampert. Pelos Federalistas, chamados ‘Maragatos’, estavam Joaquim Amorim, Mauricio Machado, Aparício Sampaio, Joaquim Noronha e Odeolécio Pereira Amarante. Antes de se sentarem à mesa, todos depuseram as armas sobre uma mesa ao lado e, por fim, depois de churrasquearem amigavelmente, o Engº Augusto Pestana discursou conclamando com veemência que sendo homens civilizados querendo o progresso e a paz para seu trabalho, que apertassem as mãos e firmassem um acordo e entendimento. E isto aconteceu e pacificou a região, mas não impediu a Revolução de 1923.

Isso foi em 1909 e foi, também, o embrião para o nascimento do movimento de emancipação da Colônia de Ijuhy, ocorrido em 1912. Assim, a ‘união’ nasceu com um acordo no ‘alto’ daquela coxilha que alguém chamou de “ALTO DA UNIÃO”, e que acabou mudando o nome do lugarejo até então chamado de “Bom Sucesso”. As antigas e velhas 3 Figueiras que fizeram abrigo e sombra para o churrasco do acordo, morreram, mas deixaram sementes que hoje vicejam em simbólicas e históricas árvores, sob as quais, em homenagem, lembrança e registro de tão significativo acordo da história, o “CTG Clube Farroupilha”, de Ijuí, lá mandou erigir um marco para manter viva a memória de tão relevante acontecimento. Por volta de 1890, já cerca de 19 línguas eram faladas e ouvidas em Ijuí e as diferentes origens étnicas foram aprendendo a conviver entre si, mas mantendo suas tradições, culturas e costumes. São tantas etnias que lá vivem que acabou por acontecer que em 13 de outubro de 2022 o Sr Ali Abdu Kalifa, Presidente da The International Organization of Folk, credenciada pela UNESCO, assinou a nomeação de Ijuí – RS – BR, como Capital Mundial das Etnias. Todo ano em Ijuí, no mês de outubro, acontece a EXPOIJUI, uma Exposição Feira Agro-Industrial e junto e simultaneamente, a FENADI (Festa Nacional das Culturas Diversificadas). Dentro do Parque, cada Etnia tem seu prédio e promove suas festas nos termos de sua cultura e de seus costumes. Você nem imagina que “baita” festança é essa e em cada Casa parece que você está no país de origem, bebendo e comendo o que o povo daquele país come e bebe. É uma dessas coisas da vida que não se pode deixar de ir, ver e participar.

Na próxima quarta-feira em LEMBRANÇAS QUE FICARAM 10, contarei a história da “LEGALIDADE DE 1961” vista por mim de dentro do Palácio Piratini, onde fiquei por 11 dias.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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Panorama Político
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