Segunda-feira, 30 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2022
Um dos principais líderes religiosos da Assembleia de Deus, o bispo Abner Ferreira, de 58 anos, afirma que a igreja não vai “demonizar” nenhum candidato ao Palácio do Planalto neste ano. A denominação pentecostal tem um acordo para apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, mas rechaça fazer campanha contra outros candidatos.
“Nenhum pastor tem direito de dizer ‘Esse é de Deus e esse é do diabo’. E eu descobri que Deus e o diabo estão em todos os partidos”, disse Abner Ferreira em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. O bispo não vê, porém, espaço para a terceira via nas próximas eleições. Na sua avaliação, a disputa será entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Ministério Madureira, comandado pelo clã Ferreira, é um dos mais poderosos da Assembleia de Deus. O pai de Abner, bispo primaz Manoel Ferreira, é o presidente vitalício da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (Conamad), que vira ponto de romaria de políticos em busca de votos. O irmão, bispo Samuel Ferreira, é o presidente da Assembleia de Deus do Brás, na capital paulista. Os dois conduzem o dia a dia das igrejas e são vice-presidentes da convenção liderada pelo patriarca. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
– O ex-juiz Sérgio Moro quer atrair o segmento evangélico para sua campanha presidencial. Ele tem chances? “Toda candidatura é legítima. Se vai ter apoio ou não é uma outra questão. Hoje nós temos um apoio declarado ao presidente Jair Bolsonaro. Isso não significa que nós vamos desmerecer o Moro ou qualquer outro candidato. Eu sempre digo ‘Irmão, você é livre para votar em quem quiser’. O voto é o santuário da democracia. É você, aquela urna e sua consciência com Deus. Ninguém pode interferir nesse processo. Você pode sugerir, conversar, mas voto não pode ser imposto.”
– Moro procurou os bispos de Madureira? Ele tem porta aberta para conversas? “Nunca conheci o senhor Sérgio Moro. Acho que ele terá muita dificuldade para ter sucesso entre os evangélicos, em razão do apoio a Bolsonaro. Mas nenhum candidato será demonizado na Convenção de Madureira. Nenhum pastor tem direito de dizer ‘Esse é de Deus e esse é do diabo’. E eu descobri que Deus e o diabo estão em todos os partidos.”
– O bispo primaz Manoel Ferreira, seu pai, fez uma reunião com o ex-presidente Lula e posou abraçado com ele. É indicativo de voto? “Foi um encontro de um pastor que foi cumprimentar alguém que já foi presidente da República e com quem tivemos uma relação muito respeitosa. Eu tenho respeito pela história do Lula, não nego jamais. (…) Foi um encontro de duas pessoas que já se conheciam e se respeitavam. Nada mais do que isso.”
– Se está com Bolsonaro, a igreja vai apoiar apenas candidatos bolsonaristas pelo Brasil? “Lógico que não, nem o presidente pode querer isso. Não tem sentido. Cada Estado tem sua realidade. Eu não acredito em partidos, eu acredito em pessoas.
– Institutos de pesquisa indicam certa simpatia pelo ex-presidente Lula entre evangélicos, similar ou até maior que a Bolsonaro. A razão é a economia? “Não é só isso, não. Lula tem um capital político, ninguém tira isso dele. Estamos a menos de um ano da eleição e as pedras começam a ser colocadas. Não vejo lugar para uma terceira via. Os outros candidatos são legítimos, mas acho que temos dois projetos de poder muito claros.”
– As igrejas endossariam uma contestação do resultado das urnas? “Que conversa é essa? Não tem chance. Zero. O voto tem de ser respeitado. Quem ganhou, ganhou. E quem não ganhou, volte para casa e refaça a sua caminhada.”
– Se Lula vencer, as igrejas vão fazer oposição? A Bíblia nos ensina a orar por todas as autoridades constituídas. Depois de proclamado o resultado, aquele que for eleito ou reeleito passará a ter o respeito e as orações da igreja.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.