Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2020
Decisões incompreensíveis. Demissões. Entrevistas sem aviso prévio. Postagens “sem noção” nas redes sociais. Essas são apenas alguns dos comportamentos atribuídos ao presidente norte-americano Donald Trump, 73 anos, no livro “Um Gênio Muito Estável”, dos jornalistas do “Washington Post” Philip Rucker e Carol Leonnig e que foi lançado no Brasil nessa terça-feira.
A dupla de autores traça um retrato íntimo do por vezes caótico do dia-a-dia na Casa Branca durante o atual governo, iniciado em 2017. O relato foi montado a partir de dezenas de depoimentos de funcionários e ex-funcionários que puderam ver de perto como o presidente funciona longe das câmeras, quase sempre sem aceitar ordens ou agir com modéstia.
“Eu passei de um homem de negócios muito bem-sucedido para uma estrela de TV e para presidente dos Estados Unidos na minha primeira tentativa”, escreveu Trump no Twitter em janeiro de 2018. “Acho que isso qualificaria alguém não como inteligente, mas gênio… e um gênio muito estável.” A frase, que inspirou o título do livro, voltaria a ser mencionada pelo magnata republicano e presidente da República em pelo menos quatro ocasiões.
“O que podemos falar é o que muitas pessoas nos contaram”, diz Rucker. “Elas dizem que prestaram um serviço ao país, tentaram preservar a instituição, as alianças dos Estados Unidos com o mundo e a segurança do povo americano do que consideraram ser ações perigosas do presidente Trump.”
Interferência russa
“Um gênio muito estável” deixa evidente como a investigação sobre a interferência russa nas eleições de 2016, vencidas por Trump, marcou sua Presidência. Com as evidências se amontoando, o livro narra decisões como a demissão do então chefe do FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos), James Comey, e o impacto da chegada do promotor especial, Robert Mueller, conhecido por ser implacável.
“O presidente afundou em sua cadeira e suspirou fundo, como alguém abrindo espaço para mais oxigênio nos pulmões a fim de soltar um grito poderoso. ‘Ah meu Deus’, exclamou Trump, ‘Isso é terrível. Meu governo acabou. Estou *f!’”, relatam os autores.
“Uma coisa que fazemos no livro é tentar mostrar esse núcleo de poder, mostrar como o presidente e seus assessores e advogados estão reagindo em tempo real, dia a dia, a cada novo acontecimento na investigação da Rússia, que eles viam como uma ameaça real”, pontuou Rucker.
Trump não escondia seu desejo de ver aquele inquérito desaparecer, e procurava caminhos que pudessem inocentá-lo. “Uma história exclusiva que ouvimos foi quando ele conversava com advogados sobre a possibilidade de conceder o perdão presidencial a si mesmo ou a sua família, se isso seria legal”, conta Carol.
“Outra cena bem reveladora em nosso livro foi quando, em uma dessas entrevistas, ele se despediu de um desses advogados que ele adoraria ver em sua defesa, e disse “se eu sentir o cheiro da cela (da prisão), eu te dou uma ligada”. Foi claramente uma piada, mas é algo fascinante de se ouvir”, acrescenta.
Ao final das investigações, em 2019, Trump respirou aliviado: o relatório não abria caminho para um impeachment ou um processo criminal, e Mueller admitiu que não conseguira provar que houve um conluio entre Trump e os russos. Uma vitória, embora o próprio Mueller tenha dito que não inocentou o presidente da acusação de obstrução de Justiça.