Quinta-feira, 31 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 25 de julho de 2025
Líderes do PT têm demonstrado resistência à vontade do presidente Lula de participar da escolha de quem fará parte da direção da sigla pelos próximos quatro anos. Os grupos políticos que atuam dentro da legenda dizem que as indicações cabem a eles.
A diretoria petista que será formada nas próximas semanas, com indicações para o diretório e para a executiva nacionais da legenda, terá papel central na campanha presidencial de 2026, quando Lula tentará a reeleição.
As divergências têm sido expostas em reuniões com o presidente eleito da legenda, Edinho Silva, que tomará posse em agosto e terá mandato até 2029.
Ex-prefeito de Araraquara e ex-ministro, Edinho era o nome favorito de Lula para o cargo e tem comunicado a correligionários que o presidente da República quer participar da escolha dos integrantes da executiva.
Lula é da corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), que conseguiu maioria no diretório nacional. Mas mesmo dentro deste grupo há resistência à influência do chefe de governo. Correntes são os nomes pelos quais são conhecidas as forças políticas que disputam poder dentro do PT.
A CNB conseguiu 51% dos votos, o que garante maioria absoluta do diretório nacional sem necessidade de negociar com outras forças. A eleição foi realizada entre filiados do partido no começo de julho.
Atual vice-presidente do partido e principal nome da CNB no Rio de Janeiro, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, contou que Edinho disse a integrantes da corrente que Lula gostaria que o ex-ministro e ex-presidente do PT José Dirceu fizesse parte do diretório nacional. A conversa teria sido em 15 de julho.
Segundo Quaquá, integrantes da CNB de São Paulo, estado onde Dirceu trilhou sua trajetória política, alegaram não ter espaço para acomodar ex-ministro. O dirigente petista diz ter oferecido uma das vagas do Rio de Janeiro no diretório nacional para abrigar Dirceu.
“O Zé Dirceu foi o grande arquiteto da vitória do Lula em 2002 e é um dos maiores quadros da esquerda brasileira. Não tê-lo no diretório é uma burrice e uma falta de consideração. É como abrir mão do Pelé na Copa de 1970”, disse Quaquá.
Além de eleger Edinho, o PT votou em chapas organizadas pelas diversas correntes da legenda para definir quantas cadeiras cada grupo terá no diretório nacional. O órgão ajuda a decidir quais petistas terão cargos executivos na estrutura partidária.
Há outras divergências entre Lula e CNB. Inicialmente o presidente não queria que a atual secretária de Finanças do partido, Gleide Andrade, fosse reconduzida ao cargo e só depois consentiu. A permanência de Gleide no posto agora é dada como consumada.
O presidente também preferiria uma mudança na secretaria de Comunicação do partido, hoje ocupada pelo deputado federal Jilmar Tatto (SP). O dirigente, porém, tem apoio tanto dentro quanto fora da CNB e se fortaleceu nas últimas semanas.
O presidente da República também teria reservas à entrega de um novo cargo executivo ao senador Humberto Costa (PE), atual presidente do partido e em suas últimas semanas no posto. Lula tem manifestado a aliados que prefere que a legenda passe por uma renovação de quadros.
A CNB teve alguns de seus integrantes fortalecidos do processo eleitoral por causa dos resultados nas urnas. É o caso do senador Beto Faro (PA), do deputado federal José Guimarães (CE) e de Gleide Andrade, além de Quaquá.
Além da corrente majoritária petista, há sinais de atrito com outras forças políticas. Em 16 de julho, Edinho se reuniu com integrantes do Movimento PT, grupo que ficou em segundo na eleição de chapas para o diretório nacional. Também disse a eles que Lula quer participar da escolha dos cargos executivos do partido.
O grupo almeja indicar seu líder, o dirigente partidário Romênio Pereira, como secretário-geral da legenda ou mantê-lo como secretário de Relações Internacionais, e rejeita a hipótese de não escolher seus próprios representantes para a cúpula partidária.
Integrantes do Movimento PT esperavam obter na reunião algum tipo de compromisso de Edinho Silva relacionado às indicações. O presidente eleito do partido, porém, tem rejeitado aceitar indicações para cargos neste momento. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.