Sábado, 11 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2015
“Foi a pior coisa que eu já fiz. Matei uma vida.” É com essa frase que a costureira Cecília (nome fictício), 39 anos, resume a angústia que traz há sete anos após a realização de um aborto. A situação vivida pela mãe de duas adolescentes de um primeiro casamento que optou por interromper a terceira gestação – fruto de um relacionamento conturbado – se repetiu nos últimos cinco anos com pelo menos 1,1 milhão de mulheres entre 18 e 49 anos.
De acordo com os dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), divulgado no último dia 21 de agosto pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2,1% das mulheres nesta faixa etária já interromperam uma gestação ao menos uma vez na vida. É por conta desse número que, apesar de alto, não reflete o total de mulheres que adotaram a prática (a pesquisa se baseou na resposta espontânea de perguntas feitas nos domicílios em 2013), que a coordenadora da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, Rosangela Talib, afirma que a recomendação feita pelo papa Francisco trata-se de uma medida paliativa.
O papa Francisco anunciou que os padres de todo o mundo poderão conceder durante o ano do Jubileu (que começa em dezembro) o perdão às mulheres que abortaram e às pessoas que os realizaram. “Isso não muda a forma como a Igreja pensa sobre o aborto. O que a gente clama é que ela entenda que a mulher escolhe o aborto não por prazer, mas por necessidade”, disse Rosangela, que destaca a orientação com duração de um ano. A orientação é que só as mulheres arrependidas da prática possam ter o pecado absolvido por um sacerdote.
Mas Cecília não se encaixa no perfil. Mesmo condenando sua prática, ela revela que se voltasse àquele novembro de 2008 tomaria a mesma decisão. “A gravidez causou um abalo psicológico e eu saí de mim”, conta a mulher, que viu a morte de perto na segunda vez que tomou os comprimidos abortivos comprados clandestinamente por uma amiga.
“Quando eu estava com quatro semanas, tomei um comprimido e coloquei outro internamente, mas não senti nada. Duas semanas depois eu repeti o procedimento e fui para o hospital com dores. Lá, eles fizeram a curetagem do feto que já estava sem coração”, contou. (DSP)