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Saúde Médica narra como enfrentou seguidas agressões físicas e psicológicas durante dez anos de casamento até criar coragem e denunciar o marido

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Para um ministro do STJ, ameaça afeta a integridade física ou psicológica da mulher. (Foto: Reprodução de internet)

Quinze anos após ter tido um dedo quebrado pelo marido médico durante uma discussão no carro, a também médica, de 47 anos, que prefere não se identificar, ainda usa proteção na mão por causa das dores. Ela conseguiu sair de um casamento de dez anos marcado por violência e decidiu contar a sua história em apoio a outras mulheres. Confira a seguir.

“Na primeira vez, ele deixou marcas de quatro dedos no meu braço. Não achou que estava errado nem pediu desculpa. Pensei: ‘Será que falei algo que o deixou nervoso para ele me apertar com força?’

Em 2001, no sétimo mês de gravidez do meu segundo filho, enquanto ele dirigia, ele bateu minha cabeça no vidro, arrancou meu cabelo e segurou minha mão. Como eu não cedia e continuava falando, forçou até quebrar meu dedo. Ainda hoje uso órtese para conter a dor na articulação. Fiquei engessada por um mês, tive sequelas, mas não perdi o movimento de pinça, porque sem isso eu teria a mão inutilizada, e preciso dela para entubar os pacientes.

Somos médicos. Conhecemo-nos no hospital em que trabalhávamos, casamos em 1997 e ficamos juntos por dez anos. Tivemos dois filhos. Ele era um cara culto. A mulher não pensa muito quando está apaixonada. Fica um pouco cega e só no decorrer do relacionamento percebe a falta de respeito.

Era como se eu estivesse submetida à opinião dele. Logo começaram as agressões psicológicas. Ridicularizava a roupa, o cabelo.

As agressões verbais apareciam em forma de brincadeira. Depois, cheguei a levar um soco no rosto. E ele sempre se escondeu na bebida. Era sempre a desculpa na minha cabeça: ‘Só é agressivo quando bebe’. Tinha o período de disfarçar, de dar presente para não tornar tudo uma ruína, mas depois voltava a mesma coisa. Você vai se sentindo culpada e anulada.

E descobre as traições. Na gravidez, recebi um telefonema do marido de uma auxiliar de enfermagem com quem ele saía. Ele confessou como se fosse a coisa mais normal. Então, eu levei o carro numa empresa para colocar uma escuta e descobri outras traições.

Depois que minha filha nasceu, ele me jogou de uma cadeira. Estava com uma presilha no cabelo que entrou na minha cabeça. Enlouquecido, ele tentou me enforcar. Minha mãe, que sabia de tudo, me acompanhou no médico.

Quando teve o enforcamento, o hospital não me deixou ir embora sem chamar a polícia. Fiz um boletim de ocorrência, como fiz na vez da mão. Fiquei apreensiva. No IML, fui atendida pelo mesmo perito, que reconheceu minha mãe: ‘A sua filha, da próxima vez, chega aqui morta’. Foi uma coisa tão forte ver a reação dela ao ouvir aquilo, de impotência, e o desespero nos olhos. Naquela hora, pensei: ‘Isso não pode continuar. Tenho que reagir’.

Levei cinco anos para criar uma consciência. Até que tive coragem de procurar o advogado, e o oficial de Justiça o tirou de casa em 48 horas. Ele nunca mais falou comigo, só pelo advogado, e continuou me agredindo indiretamente pelos filhos. A filha de 14 anos não o visita mais. O menino de 16 ainda tem contato.

Meu pai morou nos EUA e chamou as crianças para ir à Disney. Ele não autorizou para agredir. Entrei na Justiça por privação de lazer e cultura. E o juiz assinou o passaporte.

Tenho 11 processos contra ele. O primeiro porque fiquei quatro anos sem pensão. Mudei meu padrão de vida. Cheguei a vender caixinhas de madeira pintadas para complementar a renda, cuidei de criança, dei aula de dança. O processo por agressão não teve continuidade. O advogado dele falou ao juiz: ‘Quem disse que foi ele que quebrou o dedo dela? Como prova?. Não tem testemunha.’

Não tive medo de voltar a me relacionar, mas aprendi a reconhecer os agressores. Me casei de novo há quatro anos. Tem como sair disso. Pode levar um mês ou cinco anos. Conto isso porque quero que quem esteja no fundo do poço encontre uma saída.”

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