Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 11 de maio de 2019
Nicolás Maduro já dura 2.265 dias no comando de um regime ditatorial na Venezuela. Sua permanência nessas 324 semanas se deve muito mais ao divisionismo da oposição doméstica e aos erros dos adversários em Washington, Bogotá e Brasília, do que a um respaldo pleno dos seus sócios na cleptocracia.
Dúvidas, se existiam, foram dissipadas na semana passada, com a confirmação de que vários dos principais aliados de Maduro estiveram à mesa com o governo dos Estados Unidos negociando sua queda, em uma “saída institucional”. O fracasso da iniciativa, porém, não elimina as suas consequências.
Ela foi confirmada, publicamente, pela Casa Branca e por dois protagonistas, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, e o chefe do serviço secreto da presidência, Cristopher Figuera. Maduro desapareceu durante 15 horas na terça-feira 30 de abril.
Não se conhecem as razões do recuo do influente ministro Padrino na véspera do contragolpe, junto com o presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Maikel Moreno. Figuera, chefe da espionagem política, foi acolhido em Washington.
O fiasco, aparentemente, ocorreu por erros de avaliação do governo americano, certificados pelo presidente Donald Trump em críticas — não desmentidas — ao seu assessor de Segurança Nacional, John Bolton, publicadas pelo “Washington Post”. Para Maduro, no entanto, as consequências são desastrosas. Indicam significativo aumento das fissuras no centro da cleptocracia da qual é síndico.
Desde então, Maduro mergulhou em paranoia. Recolheu-se no maior complexo militar de Caracas, o Forte Tiuna. Tem aparecido na televisão estatal, com discursos gravados, de reação às deserções militares. Manteve o general Padrino na Defesa, mas entregou o serviço secreto ao vice Diosdado Cabello, líder das milícias chavistas e vinculado ao grupo de narcotraficantes conhecido como Cartel de Los Soles.
Nesta semana, Maduro listou nomes de 55 militares que expulsou. É sua quinta lista de degredações nas Forças Armadas — já havia prendido outros 164 nos últimos 30 meses. E iniciou nova escalada de repressão à oposição: sequestrou o vice-presidente da Assembleia Nacional, Edgard Zambrano, e mandou prender deputados — sem êxito até ontem —, que se somariam às duas mil pessoas detidas desde janeiro.
É impossível prever quanto tempo Maduro continuará ocupando a presidência. Porém, desde a semana passada, pode-se afirmar que, se ele ainda manda no Diário Oficial, já não é o dono do poder na Venezuela.