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Edson Bündchen O Brasil a gente vê depois

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No início dos anos 70, o professor de Stanford, Walter Mischel, desenvolveu importante pesquisa de psicologia comportamental que viria a ser conhecida como a teoria do marshmallow. Nela, crianças entre quatro e seis anos eram levadas a uma sala na qual recebiam um doce. Os pesquisadores, então, diziam às crianças que iriam se afastar da sala por 15 minutos. Quem não comesse o doce durante esse intervalo receberia um segundo doce, quando do retorno dos pesquisadores. A conclusão dos estudos demonstrou que havia uma forte correlação entre a capacidade de controlar o impulso do momento, postergando o prazer imediato, com o êxito profissional e pessoal das crianças que participaram do experimento. Conter os desejos presentes para conquistar ganhos no futuro é um exercício difícil, especialmente para os ímpetos juvenis, mas deveria ser natural para espíritos mais experientes. Não é, entretanto, aquilo que assistimos quando olhamos para a forma como são conduzidos os destinos do Brasil. O apetite voraz dos donos do orçamento público tem consumido as sementes do amanhã, mesmo antes de vê-las brotar.

Tem sido assim quando medidas eleitoreiras ameaçam o teto de gastos, orçamentos secretos cristalizam uma relação obscura entre o Executivo e o Legislativo, quando reformas urgentes são adiadas, avanços consolidados na vida institucional desmoronam e o arcabouço democrático é aviltado diariamente por quem mais deveria protegê-lo. O Brasil comporta-se como aquele menino cuja incontinência inocente troca o futuro pela gula do presente, sem, contudo, contar com a desculpa de idêntica candura. Ademais, nos encontramos cercados pelos mesmos erros estruturais que acometem o nosso continente, no qual sucedem-se governos embebidos na febre populista que não apontam senão para o recrudescimento do atual quadro de instabilidade política, econômica e social. Recente estudo do The Economist, sinaliza que, apesar do superciclo das commodities, tanto o nosso País quanto os demais vizinhos sul-americanos deixaram de fazer modernizações estruturantes nos últimos anos, com reformas políticas, tributárias e administrativas necessárias. A existência de privilégios oligopolistas e protecionistas, a falta de investimentos e a minguada taxa de inovação têm gerado uma mistura tóxica de violência crescente, baixa produtividade, pobreza endêmica e crescimento modesto.

Muito embora o histórico do processo de desenvolvimento brasileiro seja irregular e crivado de ineficiência, o potencial existente sempre deixa a oportunidade para que governos competentes e austeros quebrem essa sina que nos amarra ao atraso. A existência de uma franja considerável de “janela demográfica”, um potencial multiétnico de enorme valor, reservas minerais abundantes e uma agropecuária moderna e com índices crescentes de produtividade, fornecem uma vantagem comparativa importante diante de um mundo carente de maior segurança alimentar e estabilidade política. Mas, infelizmente, o caminho não é tão simples quanto desejamos. Décadas de ineficiência e crescimento pífio geraram uma dívida social gigantesca, com milhões de brasileiros vivendo na miséria, experimentando a contradição dramática da fome mesmo sendo um dos celeiros do mundo.

Para deixar para trás o atual ciclo vicioso de baixo crescimento e aumento da miséria, será preciso romper com a sina que tem condenado todo o Continente à estagnação. Feito um aluno zeloso, disciplinado e autocontrolado, o Brasil deve aumentar a sua taxa de poupança interna para que haja novos investimentos públicos, respeitar o teto de gastos de sorte a não castigar as gerações futuras pela irresponsabilidade presente, reerguer a nossa indústria, investir maciçamente em educação, apostar fortemente em inovação e buscar uma integração cada vez maior com o mundo. Isso seria um bom começo para que não tenhamos mais uma geração inteira ficando velha sem a chance de se tornar próspera e de desfrutar, sem complexo de culpa, do seu merecido marshmallow.

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