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Lenio Streck O coronavírus, a pós-modernidade e o “empreendedorismo”

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Nos dois pregões anteriores, a região asiática teve ganhos generalizados em meio a sinais recentes de desaceleração do coronavírus em várias partes do mundo. (Foto: Reprodução)

De algum modo, tudo isso está interligado. A avidez do comuno-capitalismo chinês mostra seus efeitos colaterais. Além da poluição já insuportável da China (basta ver os transeuntes usando máscaras de há muito), a indústria de lá não mede esforços para “se superar”. Direitos, nem se fala (vou deixar a predação e a poluição norte-americana de lado – em outra coluna falarei disso – hoje o assunto é o corona vírus).

Aliás, o regime chinês deve ser o sonho do empreendedorismo (sempre inventamos uma palavra nova para designar coisas velhas – no conceito, entra qualquer coisa, alhos e bugalhos) brasileiro: não há sindicatos, não há imprensa livre, não há problema com o meio-ambiente e não há direito do consumidor (não que em outros países não seja assim – de forma maquiada ou não!). Os CEOS (outra sigla que me causa arrepio) das empresas devem estar estudando os métodos chineses. Aliás, a julgar por coisas que se vê por aqui, já aprenderam. Os serviços caem de qualidade, os aparelhos comprados quebram mais rapidamente e o direito do consumidor é sonegado. Além de a tecnologia mais retirar do que trazer empregos (em todo o mundo).

No Brasil, as ruas estão tomadas de ubers. Só em Porto Alegre são mais de 20 mil carros. Festa para as locadoras. Inferno para o trânsito. Conforto para os usuários, que podem andar com motorista particular pelo preço de uma lotação, que, aliás, é uma espécie em extinção.

O usuário – e, por favor, em não incluo fora dessa – não mede consequências. Sendo bom para ele e sendo bom para o empreendedor, o resto pouco importa. Se as ruas estão cobertas de carros, se os impostos sobre os aplicativos vão para os Estados Unidos e Europa (coisa inacreditável, pois não?), isso não tem importância, dirão os empreendedores dos mais variados matizes.

Portanto, a tal eficiência de alguns países – e me refiro à China, porque é tão elogiada nesse quesito por grande parte dos empreendedores de terra brasilis – é só para alguns. Se medirmos e sopesarmos os efeitos colaterais do modo como a globalização lida com as questões ambientais, direitos das pessoas e falta de respeito aos consumidores (tente reclamar na internet de uma compra que não foi entregue ou coisas desse tipo), veremos que o resultado é: aquecimento global (tem gente que acha que a terra é plana e que “isso de aquecimento é bobagem, porque, afinal, há neve no inverno”), sujeira, poluição, venda de porcarias e quinquilharias, veremos que não avançamos.

Só parece que avançamos. Vejam a África, em que países são praticamente vendidos a conglomerados chineses e quejandos. Os trabalhadores vêm de containers. Moçambique, Angola são interessantes exemplos.

A tal pós-modernidade apenas serviu para mostrar que já não existem fatos e, sim, apenas narrativas. Vivemos em um mundo de mentiras, nome correto para a tal “pós-verdade”. Eleições são vencidas por meio de fake news. Epidemias são maquiadas. Pandemias são escondidas. Em poucos dias, passamos ao alerta global sobre o corona vírus.

De que adianta um mundo totalmente informatizado, se um vírus coloca em pânico as bolsas? No medievo teve a peste que dizimou milhões. Falta de informações e higiene. Hoje temos excesso de informações. Temos mais tecnologia. Mas, paradoxalmente, os vírus de multiplicam mais rapidamente.

Isso sem contar com os vírus da informática. Olavo de Carvalho disse que Bill Gates seria o culpado do corona vírus. Bom, para quem acredita que a terra é plana e que os Beatles não fizeram as letras das músicas (foram feitas por Theodor Adorno – sic), talvez se possa responder: sim, deve ter sido Bill Gates. Ele quer vender um novo antivírus para seu computador.

Rir para não chorar. E vou chamar um Uber. E abrir uma startup. E vou assistir a um coach. Não sem antes consultar um influencer (devem ser os caras que causaram a epidemia de influenza). Enfim, com uma boa startup posso até abrir uma transportadora de carga sem ter caminhão. E coloco a sede na Holanda. Também posso vender pizza sem fazer nenhuma.

Vai chegar o dia em que alguém dirá: mas ninguém vai produzir, de verdade?

 

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https://www.osul.com.br/o-coronavirus-a-pos-modernidade-e-o-empreendedorismo/ O coronavírus, a pós-modernidade e o “empreendedorismo” 2020-02-01
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