Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 26 de setembro de 2020
Primeiro de setembro de 1990. Começava mais uma edição do Campeonato Espanhol. Nos cinco anos anteriores, não teve para ninguém: o Real Madrid abocanhou, de forma consecutiva, cinco troféus. Recheado de jogadores da base, o Real se exibiu nos gramados hispânicos com um futebol leve, atraente e ofensivo, no qual ficou conhecido como “La Quinta Del Buitre”, em referência ao “líder” do grupo, Emílio Butragueño.
Ao norte, Espanyol e Barcelona abriam a temporada 1990/1991 com o dérbi da Catalunha. Deu Barça, com gol de Hristo Stoichkov, maior reforço culé no verão europeu. Um pequeno passo para o contra-ataque barcelonista à hegemonia madridista. Iniciava a arrancada culé que culminaria em um histórico tetracampeonato nacional e o primeiro título da Liga dos Campeões.
Se, atualmente, o clima é de incerteza para um Barcelona que corre atrás do eterno rival, há 30 anos a expectativa era no mínimo de esperança. Por um lado, embora o fim da campanha 1989/1990 tenha sentenciado o pentacampeonato de La Liga do Real Madrid, na Copa do Rei a história foi diferente.
Contudo, a final entre os antagônicos foi, também, uma prova de recuperação para Johan Cruyff. Campeão espanhol como jogador em 1974, o holandês retornou como treinador em 1988 para tentar recolocar o filho pródigo da Catalunha nos trilhos de novo. No entanto, os dois primeiros anos foram delicados e só um título na competição copeira evitaria a demissão.
A decisão em Valencia, no Mestalla, é considerada por muitos como uma espécie de “passagem de bastão”. Com a espinha-dorsal do time que viria a dominar a Espanha nos anos seguintes, o emergente Barcelona venceu por 2 a 0, para a fúria do técnico galês John Toshack, do Real Madrid, que não resistiu e foi desligado do cargo. No âmbito moral, anímico e místico, o Superclássico ganhava um novo e crucial capítulo.
“O legado de Cruyff é essencial para a história do Barcelona. O holandês fomentou uma filosofia e criou possibilidades para o desenvolvimento de um DNA de futebol que seguirá no Camp Nou. O clube, inclusive, colheu frutos em importantes conquistas recentes. A partir das ideias de Cruyff, o Barça passou a ser reconhecido pelo futebol ofensivo, criativo e vistoso. Moldar todos esses elementos, portanto, coloca o holandês como um notável. Não consigo dissociar a imagem blaugrana a de Johan. Ele é a história culé. Lionel Messi, sem dúvidas, é o melhor jogador que já vestiu as cores do Barcelona. Cruyff é a mente. A visão. Sem ele, nada seria possível”, afirma Aigor Ojêda, editor do site Lance.
Para alcançar as glórias foram precisos mudanças estruturais. Sob a baliza de Cruyff e do auxiliar-técnico Carles Rexach, as divisões de base, hoje famosamente conhecida como “La Masía”, nome dado às instalações de treinamento e à academia que abrigava as promessas até 2011, teriam importância indeclinável. De acordo com o livro “Barça: a construção e a trajetória do melhor FC Barcelona de todos os tempos”, escrito por Graham Hunter e publicado no Brasil pela editora Grande Área, Cruyff enxergou a necessidade dos treinadores da base jogarem no mesmo esquema tático (4-3-3) com o mesmo estilo de jogo para facilitar a transição à equipe profissional.
“São quatro grandes momentos do Barcelona em sua história: quando surge; depois com o Kubala, que é responsável pela mudança de estádio para o Camp Nou; e aí vem o Cruyff, que é um grande marco, porque os outros dois momentos são ligados a ele. Ele traz uma mudança gigantesca no clube, quanto à filosofia, categorias de base e modelo de jogo. Anos depois, vem o Ronaldinho, já com o Laporta, com toda uma ideia que tem o Cruyff como presidente honorário, como um conselheiro importante do clube. O Messi chega porque a filosofia do Cruyff está lá. É bem provável que, se não tivesse, o Messi não seria contratado. Ou o Guardiola não seria um jogador do Barcelona, por não ter sido tão forte fisicamente. O Messi é o maior jogador, mas o Cruyff é mais importante num contexto geral. Então é possível falar que Johan é o maior nome da história do Barcelona”, salienta o jornalista Gabriel Corrêa, da Rádio Bandeirantes e do site “Footure”.
Mais do que a dinastia nacional e a conquista do primeiro título europeu, em 1991/1992, quando derrotou a Sampdoria em Wembley por 1 a 0, é inevitável não falar de legado deixado por Cruyff e seu entorno. Desde então, com a ressalva do inglês Bobby Robson em 1997, todos os treinadores campeões com o Barcelona foram holandeses (Louis Van Gaal e Frank Rijkaard) ou espanhóis que atuaram com Johan (Pep Guardiola, Luis Enrique e Ernesto Valverde).
Agora, trinta anos depois do início da longa caminhada que resultou em um dos períodos mais vitoriosos do futebol espanhol, o Barça, novamente com um holandês no comando técnico, espera curar as cicatrizes abertas pela desastrosa temporada 2019/2020. O pontapé inicial será neste domingo, às 16h, contra o Villarreal. As informações são do site Lance.