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Viagem e Turismo O turismo em Veneza nunca mais será o mesmo, mas pode ser melhor

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Moradores e profissionais do setor se organizam para pensar alternativas mais sustentáveis para Veneza. (Foto: Reprodução)

Muito antes de Veneza se tornar o destino dos sonhos de milhões de turistas ao redor do mundo, seus habitantes mantinham a tradição da flânerie, a caminhada a esmo pelas calli, ou calçadas locais. Encontravam os conhecidos por acaso e paravam para uma prosa ou uma bebida ocasional ou “sombra de vinho”, como é chamada na lagoa.

Pois esse costume voltou a ganhar fôlego. A pandemia arrasou a indústria do turismo, desaparecendo com as hordas anuais que faziam da flânerie uma missão quase impossível, e agora muitos moradores – principalmente os que foram demitidos ou estão em lay off – têm mais tempo e espaço para apreciar o ritmo lento e a beleza esvanecida da cidade. Mas o dinheiro está escasso, para aquele gole de vinho e todo o resto. As tavernas locais começaram a aceitar fiado dos fregueses mais antigos.

Veneza certamente não é a única. Outros centros europeus, como Barcelona e Praga, passaram a depender mais e mais do turismo, o que os deixa hoje particularmente expostos aos efeitos colaterais da pandemia.

Mas há um novo sentimento compartilhado por muitos moradores e as agências de viagens locais: o de que a crise criou uma oportunidade de tornar mais sustentáveis as futuras viagens para essas cidades e regiões, e dentro delas. Essa encruzilhada está gerando discussões de como fazer com que o turismo sobrecarregue menos a infraestrutura urbana e a população local.

Os moradores e líderes de Veneza esperam que esta possa desenvolver uma economia que não gire apenas em torno do turismo, mas que atraia investidores internacionais, expanda a influência de suas duas universidades e transforme os prédios vazios em centros de pesquisa ambiental.

Um centro comercial de altos e baixos

A singularidade dessa cidade italiana fez com que se tornasse uma atração mundial há séculos.

Como cidade-Estado, Veneza foi um próspero centro comercial e financeiro durante a maior parte da Idade Média. No meio do caminho entre Constantinopla e a Europa Ocidental, sua localização fez com que se tornasse o núcleo ideal para a comercialização de especiarias, seda e sal.

Mas, conforme o centro do comércio passou do Mediterrâneo para o Atlântico, Veneza perdeu seu protagonismo, e ao fim do século XVIII, quando se viu sob um governo estrangeiro, o declínio foi inevitável. Foi então que os europeus ricos começaram a visitar as cidades italianas ricas em arte, incluindo Veneza, em uma tradição que ficou conhecida como “Grand Tour”.

Mas, no fim do século XX, se tornara o que os economistas descrevem como uma “monocultura do turismo”, tomando emprestado o termo da prática agrícola arriscada de cultivar apenas uma cultura.

“É gente demais”

Antes da pandemia, os hotéis na cidade e à sua volta recebiam 10,2 milhões de turistas por ano, a grande maioria estrangeiros, de acordo com a agência nacional de estatísticas. Só que esse número – que, na melhor das hipóteses, é só uma estimativa – não inclui o pessoal que sai dos navios e/ou chega de trem e ônibus para passar ali o dia. Uma estimativa joga o número real de turistas a 20 milhões por ano – praticamente concentrado em uma área de pouco mais de 5 km² e 50 mil moradores – que contribuem com 3 bilhões de euros, ou cerca de US$ 3,3 bilhões por ano.

Principalmente na alta temporada, entre maio e outubro, e durante o carnaval de fevereiro, Veneza ficava impossível de tão lotada, principalmente suas calli estreitas, algumas com apenas dois metros de largura.

A crise da Covid-19

Seis meses atrás, o turismo excessivo de Veneza estancou de supetão. O número de visitantes despencou primeiro em novembro, quando uma série de enchentes fora de época resultou em cancelamentos; depois, quase desapareceu no fim de fevereiro, quando a Covid-19 forçou as autoridades a cancelar o carnaval e, logo depois, declarou confinamento nacional.

Scarpa, o presidente do órgão hoteleiro, informa que a queda repentina do setor pode custar à cidade mais de um bilhão de euros em perda de receita.

“Cerca de dez mil venezianos estão de licença, e isso só no setor de hotelaria. A recuperação será lenta, já que os hotéis esperam somente um terço do número normal de turistas na alta estação deste ano”, prevê Scarpa.

O governo federal prometeu ajudar a indústria do turismo com pacotes de auxílio e isenções fiscais para hotéis e restaurantes em dificuldades, mas outros setores também foram muito atingidos.

Desde que a Itália suspendeu a restrição de movimentos, no início de junho, a lagoa já recebe alguns visitantes, a grande maioria de excursionistas da região vizinha do Veneto.

Geografia e fiscalização

Há tempos, os venezianos enfrentam sempre as mesmas questões: como fazer do turismo um setor mais sustentável? Como deixar de depender somente dele?

O fato de pouca ou nenhuma mudança significativa ter sido implantada até agora começa com a geografia e a fiscalização governamental.

A Veneza de hoje vai além das origens medievais na lagoa; do ponto de vista administrativo, é uma cidade grande, de 250 mil habitantes, consistindo de diversos bairros no continente e nas diversas ilhas da lagoa.

Grupos há tempos avessos ao turismo excessivo estão pressionando a Prefeitura, responsável pelas decisões do turismo, ao lado da administração regional, para limitar o acesso ao centro histórico com um sistema de cotas e reservas (moradores e visitantes podem ser excluídos). O prefeito Luigi Brugnaro informou por e-mail que sua administração está trabalhando no sistema de reservas como “um objetivo de curto prazo”.

“O governo espera regulamentar o fluxo de turistas, de modo que sejam compatíveis com o dia a dia dos moradores”, acrescentou.

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https://www.osul.com.br/o-turismo-em-veneza-numa-mais-sera-o-mesmo-mas-pode-ser-melhor/ O turismo em Veneza nunca mais será o mesmo, mas pode ser melhor 2020-08-05
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