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Geral A vacina contra o coronavírus não mudará o mundo de uma hora para outra

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Só na USP sete projetos estão em andamento, mas falta de recursos e estrutura impedem que imunizantes fiquem prontos no curto prazo. (Foto: CDC/Unsplash)

Na imaginação geral, a chegada de uma vacina contra o coronavírus parece algo importante: É simplesmente o fim hollywoodiano da incerteza sombria e dilacerante da vida de todos os dias em uma pandemia. Mas neste momento os especialistas em saúde pública discutem uma nova preocupação: será que as esperanças de uma vacina estão sendo exageradas?

O retrato confiante que os políticos e as companhias fazem da iminência e da inevitabilidade de uma vacina pode dar às pessoas uma convicção não realista de que, em breve, o mundo poderá retornar ao normal e provocar certa resistência a estratégias simples que poderiam conter a transmissão e salvar vidas a curto prazo.

Na semana passada, duas vacinas contra o coronavírus entraram nas fases finais dos testes em seres humanos, um recorde de rapidez no campo da ciência. Os executivos da indústria farmacêutica previram que as vacinas poderão estar disponíveis já em outubro, ou antes do fim do ano.

À medida que o enredo avança, o mesmo acontece com as expectativas: se as pessoas puderem aguentar mais alguns meses, a vacina chegará, a pandemia acabará e todos poderão jogar fora as máscaras. Mas os especialistas – que acreditam sinceramente no poder das vacinas – preveem um longo caminho ainda pela frente.

“Parece improvável, para mim, que uma vacina seja uma espécie de interruptor ou um botão de reset graças ao qual voltaremos aos tempos anteriores à pandemia”, disse Yonatan Grad, professor adjunto de moléstias infecciosas e imunologia da Universidade Harvard, na Escola de Saúde Pública T.H. Chan.

A declaração de que uma vacina se mostrou segura e eficiente será um começo, não o fim. Inocular a vacina nas pessoas nos Estados Unidos e no mundo todo porá à prova e sobrecarregará as redes de distribuição, a cadeia de suprimentos, a confiança da sociedade e a cooperação global. Levará meses ou, mais provavelmente anos, para que ela chegue a um número suficiente de pessoas de maneira a tornar o mundo seguro.

Para os que obtiverem a vacina logo que se tornar disponível, a proteção não será imediata – leva semanas para o sistema imunológico criar pelotões de anticorpos para combater a doença. E muitas tecnologias usadas nas vacinas exigirão uma segunda dose semanas depois da primeira para criar respostas imunes.

A imunidade poderá ser de breve duração ou parcial, exigindo repetidos reforços que sobrecarregam o fornecimento de vacinas ou exigem que as pessoas mantenham o distanciamento social e o uso de máscaras, mesmo depois de receberem suas doses.

Uma vacina de efeito comprovado mudará profundamente a relação que o mundo tem com o novo coronavírus e é assim que muitos médicos acreditam que a pandemia acabará.

A necessidade de desenvolver as vacinas costuma ser caracterizada frequentemente como uma corrida, com um país ou uma companhia à frente. A metáfora da corrida sugere que o que importa é quem chegar em primeiro lugar. Mas o primeiro a alcançar a linha de chegada não é necessariamente o melhor – e quase certamente este não será o fim da corrida, que poderá se estender anos a fio.

“É provável que a hipótese realista se assemelhe mais ao que vimos ocorrer no caso da HIV/aids”, disse Michael Kinch, especialista em desenvolvimento de medicamentos e pesquisa da Universidade Washington em St. Louis. “Olhando retrospectivamente, no caso do HIV, tivemos uma primeira geração de medicamentos bastante medíocres. Temo – e as pessoas não gostam de ouvir isto, mas eu vivo pregando isto – que deveremos nos preparar para a ideia de que não teremos uma vacina cem por cento eficaz. Eu acredito que a primeira geração de vacinas poderá ser medíocre”.

No dia 12 de abril de 1955, foi apresentada como eficaz e segura uma vacina contra a pólio. O inventor, Jonas Salk, tornou-se um herói nacional. Os sinos das igrejas começaram a tocar, e as pessoas correram para a rua para se abraçarem, contou Howard Markel, um historiador da Universidade de Michigan.

Entretanto, surgiram obstáculos ao longo do caminho, enquanto os cientistas e as autoridades de saúde pública tentavam fazer frente a uma doença que constituía uma das maiores ameaças para as crianças. O “incidente Cutter” tornou-se um episódio na medicina, quando uma das fornecedoras da vacina não conseguiu desativar completamente o vírus na dose, e infectou cerca de 40 mil crianças, paralisando 51 e matando cinco.

A vacina Salk foi um momento transformador, mas também não foi o fim da pólio. Nos dois anos seguintes, os casos nos Estados Unidos caíram 80%, mas os surtos continuaram  por vários anos, ainda depois que a vacina foi lançada no mercado. Seis anos mais tarde, foi introduzida uma vacina oral contra a pólio.

Mas a vacina da pólio ocorreu em um momento distinto na história americana, disse Markel, em que as pessoas tinham enorme fé de que os cientistas, a medicina e as instituições do governo poderiam mudar suas vidas para melhor. No caso do coronavírus, um deslize relativamente pequeno poderá ter efeitos desmedidos, principalmente para os ativistas que combatem a vacina e já trabalham para semear a desconfiança.

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