Sexta-feira, 20 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 19 de junho de 2025
Partidos de centro-direita que ocupam ministérios e outros cargos de destaque no primeiro escalão articulam uma estratégia para deixar o governo Lula “sangrando” até as eleições. Empenhados em construir uma candidatura única ao Palácio do Planalto, dirigentes do Centrão flertam com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e se movimentam para montar um bloco de atuação no Congresso que sinalize para a disputa presidencial de 2026.
A iniciativa é liderada pelos presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do União Brasil, Antônio Rueda. No fim de abril, os dois partidos se uniram numa federação e, com o casamento, formaram uma bancada de 109 deputados – a maior da Câmara – e 14 senadores.
Na última segunda-feira (16), mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu uma derrota na Câmara ao ver aprovado o requerimento de urgência contra o decreto que aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Ciro procurou os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia Rossi, para uma conversa reservada.
Ex-ministro da Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro (PL), Ciro está costurando um acordo para que partidos da base do presidente combinem os próximos passos como se estivessem na oposição. O movimento político capitaneado pelo Centrão é para mostrar ao Planalto que o processo de divórcio litigioso está em curso e deve ser assinado ainda no primeiro semestre do ano que vem.
Na prática, o sinal de insatisfação dado pela Câmara ao decidir acelerar a votação destinada a barrar o decreto de Lula que aumenta alíquotas do IOF não foi apenas por causa do atraso na liberação das emendas parlamentares.
Desde que pesquisas começaram a indicar a queda da popularidade do presidente, deputados e senadores dizem que o café de Lula já esfriou. Em outras palavras: para eles, o PT não representa mais uma expectativa de poder.
A portas fechadas, Ciro Nogueira avalia que o PP, o União Brasil, o Republicanos e o MDB também precisam se unir para formar uma rede de proteção em torno do presidente da Câmara, Hugo Motta (PI). O deputado é muito ligado ao senador.
Sob pressão
Filiado ao Republicanos, a exemplo de Tarcísio, Motta tem sido pressionado pelo Planalto a ajudar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nas articulações para aprovar medidas que aumentam a arrecadação federal. Na outra ponta, seus pares do Centrão querem ver o governo nas cordas para derrotar Lula, em 2026.
Após o recesso parlamentar de julho, a ordem é também investir na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. A abertura da CPMI, que teve o requerimento de criação lido anteontem pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), significa mais um revés para Lula.
O escândalo do desvio de recursos das aposentadorias é atualmente um dos maiores fatores de desgaste do governo. A fraude começou em 2019, na gestão de Bolsonaro, mas foi ampliada nos últimos anos.
Senado
Inelegível até 2030, Bolsonaro começa a dar sinais de que pode apoiar uma candidatura de Tarcísio à sucessão de Lula. Nessa aliança, porém, o ex-presidente não abre mão de indicar a maioria dos candidatos ao Senado.
Réu na ação penal que investiga a tentativa de golpe no País, em 8 de janeiro de 2023, Bolsonaro sabe que será condenado e, possivelmente, preso. Diante desse cenário, ele tem dito que só apoiará um candidato disposto a lhe conceder indulto.
A estratégia de trabalhar também por um Senado com maioria bolsonarista tem um motivo específico. Sob a acusação de liderar uma organização criminosa para romper o estado democrático de direito, o ex-capitão do Exército acha que só com o controle do Senado poderá enquadrar ministros do STF e até aprovar impeachment de magistrados.
Ao Estadão, Ciro disse que a conversa com Marcos Pereira e Baleia Rossi tratou das disputas de 2026. O Republicanos e o MDB avaliam a possibilidade de formar uma federação e, se fecharem acordo, terão 88 deputados e 15 senadores. O MDB, no entanto, tem um perfil mais governista.
“Em primeiro lugar, queremos alinhar os palanques estaduais para as eleições do próximo ano; em segundo, ter uma atuação conjunta no Congresso. Isso é importante para fazer uma frente desses quatro partidos”, afirmou Ciro.
O senador gostaria de ser vice numa chapa presidencial. Nega, porém, que a candidatura de Tarcísio já esteja sendo construída pelo grupo. (Com informações do Estado de S. Paulo)