Quinta-feira, 10 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2020
Rompidos desde a eleição de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) selaram as pazes em uma conversa. O gesto pode significar o início de uma reaproximação entre os partidos de esquerda de olho na disputa presidencial de 2022, apesar de o assunto não ter sido abordado no encontro.
O armistício foi intermediado pelo governador do Ceará, Camilo Santana, filiado ao PT, mas aliado dos irmãos Ferreira Gomes em seu Estado. As tratativas para viabilizar a conversa duraram mais de um mês.
A reunião, no começo de setembro, ocorreu na sede do Instituto Lula, em São Paulo, e durou uma tarde inteira. Ciro falou de suas mágoas com o PT, enquanto Lula lembrou os ataques do ex-ministro ao partido.
O tema central da conversa, porém, foi o governo do presidente Jair Bolsonaro e a situação do País diante da pandemia de coronavírus. Diagnósticos sobre as razões do resultado eleitoral também foram apresentados.
Desde o encontro, Ciro e Lula mudaram o tom ao se referirem um ao outro e cessaram os ataques e alfinetadas. Os dois tiveram uma relação próxima, principalmente no primeiro governo do ex-presidente, quando o hoje pedetista foi ministro da Integração Nacional. O ex-presidente costumava exaltar a postura leal do ex-subordinado durante a crise do mensalão, em 2005, o primeiro grande desgaste da era petista.
Após a notícia de que Lula e Ciro se encontraram, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, condicionou a reaproximação entre as duas maiores lideranças da esquerda no Brasil a um pedido público de desculpas do pedetista ao PT.
“Lula é um homem generoso, de coração grande. Mas eu, particularmente, penso que qualquer aproximação com Ciro Gomes passa por um pedido público de desculpas dele ao Lula e ao PT, pelo que ele disse, principalmente ao Lula”, disse Gleisi.
A pedido de Lula o encontro estava sendo mantido em sigilo para não melindrar a base petista, que elegeu Ciro como adversário, às vésperas da eleição municipal.
Gleisi também cobrou de Ciro um “gesto” pedindo o fim dos ataques do PDT à candidata petista à prefeitura de Fortaleza, Luiziane Lins. “Qualquer gesto que contribua para unir a oposição é importante. Espero que os Ferreira Gomes façam um gesto nesta direção, pedindo a seu candidato em Fortaleza para cessar os ataques à candidata do PT, Luiziane Lins”, disse Gleisi à radio Arapuan FM de João Pessoa (PB).
Luiziane ocupava a segunda colocação nas pesquisas, atrás do líder Capitão Wagner (PROS), mas foi ultrapassada pelo candidato dos Ferreira Gomes, José Sarto, no levantamento do Datafolha divulgado na quarta-feira, 28. Fortaleza é uma das únicas capitais em que o PT tem chance real de vitória.
Segundo interlocutores de Lula e Ciro, os dois falaram superficialmente sobre a necessidade de união da esquerda para combater o bolsonarismo, mas não chegaram a traçar planos ou estratégias eleitorais conjuntas.
Mesmo assim o encontro gerou expectativas de que possa ter repercussões concretas ainda no segundo turno das eleições municipais deste ano e em 2022. “Isso sinaliza a necessidade de unidade das esquerdas no Brasil. Espero que este encontro tenha uma projeção para 2022 e também para o segundo turno das eleições deste ano”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), secretário-geral do partido.
Ciro e Lula não se falavam desde 2018, quando ocuparam lados opostos na disputa presidencial. O PT chegou a oferecer a Ciro a posição ocupada por Fernando Haddad de vice que se tornaria cabeça de chapa com o impedimento de Lula pela Justiça Eleitoral. Depois disso o pedetista passou a explorar o espaço de opção ao petismo na esquerda.
Desde então a escalada de ataques verbais aumentou. O mais notório foi quando, em um evento da campanha de 2018, Cid Gomes, irmão de Ciro, disse para um manifestante: “Lula tá preso, babaca”. Na sequência, Ciro se recusou a declarar apoio a Haddad no segundo turno e virou alvo dos petistas em discursos e nas redes sociais. Nas eleições deste ano o afastamento se cristalizou com a aproximação entre PDT e PSB por um lado e PT e PSOL por outro.
Desde o encontro, Lula tem incluído Ciro no rol de nomes fortes da esquerda para 2022 e o pedetista cessou os ataques ao PT.
Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, o resultado mais importante do encontro foi a retomada do canal de diálogo entre dois grandes líderes da esquerda no país. “Serviu para quebrar o gelo. O diálogo tem que ser permanente”, disse Lupi.
O dirigente, no entanto, minimizou o impacto eleitoral do encontro. “Antes de falar de segundo turno ou de 2022 temos que passar pelo primeiro turno”. As informações são dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo.