Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de agosto de 2020
Uma pesquisa do Datafolha revela que nove a cada 10 brasileiros querem se vacinar contra o novo coronavírus assim que o produto estiver disponível. Não à toa, a corrida para produzir o imunizante está a todo vapor: até o dia 20 de agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 169 vacinas sendo desenvolvidas contra o vírus, entre aquelas já em fase de estudos clínicos (com humanos) e pré-clínicos (com animais), três delas no Brasil.
Neste mesmo mês, o mundo entrou em rebuliço quando o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que o país aprovou uma vacina e pretende começar a imunização em massa já em outubro. A realidade, por outro lado, não é tão simples quanto parece. Primeiro, há o desafio da criação da vacina em si. São três os principais métodos conhecidos de se produzir um imunizante: com o próprio agente patogênico morto, vivo, ou enfraquecido; com fragmentos do vírus; ou com técnicas de engenharia genética que incluem modificar o agente para que não provoque a doença. Cabe ao cientista desenvolver ou mesmo criar do zero um conceito que ache mais adequado — com avanços tecnológicos, as possibilidades são inúmeras.
Criado o método, o próximo passo são os estudos pré-clínicos, que têm como objetivo identificar se o modelo desenvolvido pode, de fato, ser aplicado. Esses testes, em geral, são feitos com outros mamíferos. “Você pode começar com 100 ideias, e vai afunilando até terminar com umas 20”, conta o médico infectologista pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), para exemplificar que somente 20% das provas de conceito realmente evoluem para os estudos clínicos.
Nessa etapa, dividida em três fases, são feitos testes em humanos — a primeira começa com poucas dezenas de pessoas para ajustar a dose, a segunda inclui centenas de voluntários para confirmar se há indução de resposta e, na terceira, observa-se a reação em alguns milhares de indivíduos, em estudos controlados para verificar se a vacina funciona. Quando todas as fases são cumpridas, o produto é submetido a agências regulatórias, que devem licenciá-lo para aplicação na população.
Testes no Brasil
Existem hoje seis vacinas contra o novo coronavírus que estão na terceira e última fase. Dessas, três estão sendo testadas no Brasil: a AZD 1222, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, feita em parceria com a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca; a Coronavac, criada pela empresa chinesa Sinovac e produzida no Brasil junto ao Instituto Butantan, em São Paulo; e a da farmacêutica norte-americana Pfizer, em parceria com a alemã BioNTech e a chinesa Fosun Pharma. Um dos principais motivos para o Brasil estar entre os locais de testes é o fato de, no momento, estarmos no pico da pandemia.
E cada uma dessas candidatas testadas por aqui funciona de uma forma diferente. A britânica usa o modelo do vetor viral não replicante. Basicamente, a ideia é usar outro vírus para nos proteger contra o alvo desejado. O microrganismo é modificado geneticamente para que não possa se replicar em células humanas, mas ainda assim consiga levar a elas o código (por exemplo, o DNA do vírus-alvo) para a produção de um antígeno. Esse formato vem sendo estudado desde 2012, quando o coronavírus causador da Mers foi identificado pela primeira vez, no Oriente Médio. Contra a Covid-19, bastou trocar o DNA do Mers-CoV pelo do Sars-CoV-2.
No Brasil, 2 mil voluntários participam dos testes da AZD 1222 e, caso aprovada, será produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo o Ministério da Saúde, o acordo fechado prevê a produção de cerca de 100 milhões de doses (30 milhões em um lote inicial de risco assumido e, se a vacina se mostrar eficaz e segura, mais 70 milhões), a um custo de US$ 2,30 por dose — a AstraZeneca não visa o lucro com a comercialização do produto.
No fim de julho, os voluntários brasileiros que participam dos testes da vacina da chinesa Sinovac começaram a receber as primeiras doses. No total, serão 9 mil participantes, todos profissionais de saúde, em 12 centros de diferentes Estados, em uma empreitada coordenada pelo Instituto Butantan.
A Coronavac usa cópias inativas do Sars-CoV-2 para provocar nosso sistema imunológico a produzir anticorpos que neutralizam o vírus. Até novembro, 852 pessoas vão receber o imunizante, sendo que algumas já começaram a ser vacinadas. O preço final para caso a vacina seja aprovada ainda não foi informado.
No início de agosto, a coalizão de farmacêuticas Pfizer/BioNTech/Fosun Pharma iniciou a terceira fase de testes com voluntários brasileiros. A técnica usada nessa vacina é a do RNA mensageiro, considerada bastante inovadora. Ela consiste no uso de um pequeno fragmento do código genético do coronavírus, que é injetado no paciente, incapaz de causar uma infecção, mas o suficiente para produzir uma resposta imune. Caso funcione, será a primeira vacina criada a empregar o método.