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Colunistas Ser vegano é uma boa?

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O veganismo, um modo de vida que exclui consumir qualquer produto de origem animal, vem crescendo em proporções preocupantes, especialmente na população jovem. Tido inicialmente como mais um modismo, preconizado pelos que se penalizam com o “sofrimento” dos animais criados para o consumo, vem assumindo contornos bem mais amplos, inclusive políticos e ideológicos.

Veja o que aconteceu no Estado de São Paulo. Inspirada no movimento “Meat Free Monday” (segunda-feira sem carne) a Assembleia Legislativa desse estado aprovou um projeto de lei que exclui a carne da merenda escolar nas segundas-feiras. Ora, privar organismos em formação de consumir carne pode levar jovens estudantes a padecerem importantes déficits nutricionais já que vários componentes essenciais ao metabolismo humano somente são encontrados nos produtos de origem animal. Nenhuma proteína vegetal, por mais nutritiva que seja, possui um balanço de aminoácidos tão completo quanto o encontrado nas proteínas dos tecidos animais. Tolher crianças de comer carne poderá levar a déficits na formação músculo-esquelética (afora a água, as proteínas são o componente mais abundante no corpo humano, sendo os aminoácidos delas derivados os “tijolos” da nossa estrutura corporal).

Muitas das vitaminas fundamentais ao funcionamento do organismo deixam de ser produzidas no corpo humano, exigindo constarem na alimentação para evitar futuras deficiências nutricionais. As do complexo B, essenciais à produção de glóbulos vermelhos, somente estão disponíveis em níveis adequados nos produtos de origem animal, podendo uma alimentação deficiente na vitamina B12, por exemplo, levar a um quadro de anemia ferropriva (vegetais tem ferro não-heme, de difícil absorção pelo organismo). Atuante na regeneração neural, o baixo consumo de vitamina B12 aumenta os riscos de depressão e de outros problemas mentais.

Reportando ao processo evolutivo humano, estudos comprovam que no percurso que levou o Australopithecus (um ancestral primevo do homem surgido há 3,5 milhões de anos cujo volume craniano oscilava entre 450 e 600 cm³), até o Homo sapiens (temos um volume craniano de 1.500 cm³), o acréscimo no tamanho do cérebro aconteceu concomitante a mudanças havidas no hábito alimentar.

O tecido cerebral requer um aporte de energia muito superior à demandada por outros tecidos, consumindo dezesseis vezes mais energia do que o tecido muscular em repouso, justificando a preferência instalada no homem, desde o “tempo das cavernas”, pelo consumo de produtos de origem animal (a carne possui o dobro da energia contida em igual quantidade de frutas e dez vezes mais calorias do que os vegetais fibrosos).

A predileção pela carne dos grandes animais permitiu aos pré-humanos suprir suas necessidades nutricionais com uma única refeição diária, liberando tempo para aperfeiçoar o manejo de instrumentos e para elaborar novos processos cognitivos, favorecendo a evolução cultural (animais gastam quase a totalidade do tempo na busca por alimentos).

Nossos primos chimpanzés, com uma massa cerebral de 400 cm³, satisfazem suas necessidades alimentares consumindo produtos de origem animal em porcentagem inferior a 5% do total ingerido, levando a conjeturar-se que, tivesse a atual teoria vegana sido adotada nos primórdios da evolução humana seríamos hoje tão inteligentes quanto um chimpanzé, levantando a questão: o que pretendem os defensores do veganismo, acionar um processo involutivo de “retorno às cavernas”? Não que a vida de nossos pretéritos caçadores/coletores fosse destituída de encanto, já que gastavam o dia caçando, pescando e colhendo frutas, livres no ambiente natural. Mas com sete bilhões de pessoas… fica complicado.

Atendo-se ao conhecimento científico hoje disponível, especialistas em nutrição humana, que gastam suas vidas estudando a qualidade dos alimentos em atender nossas necessidades nutricionais, nenhum recomenda abandonar o consumo dos produtos de origem animal. Muito pelo contrário.

No contexto atual, de uma economia globalizada, é preciso estar atento a que o discurso vegano atende ao interesse de poderosas organizações internacionais do ramo alimentar que veem como principal competidor o Brasil, um campeão mundial na produção de proteína animal.

Eduardo Allgayer Osorio — Professor Titular da UFPEL, aposentado.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/ser-vegano-e-uma-boa/ Ser vegano é uma boa? 2020-03-04
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